NEM AMÉLIA NEM EMÍLIA

Meu avô chegou ao Brasil durante e primeira guerra mundial, igual a milhares de imigrantes europeus.

Pelo nome - Manuel Pereira - dá para imaginar de onde veio.

Foi um dos fundadores do Bairro da Vila Maria em São Paulo.

Lá nasceram meu pai e meus tios.

Como era marceneiro foi trabalhar em uma fábrica que montava bondes; ele mesmo ia de bonde trabalhar todos os dias, inclusive aos sábados.

Minha avó, Dona Albina, tinha a missão de cuidar da casa e dos filhos.

Ela era uma Amélia ou Emília... ou provavelmente as duas... e nem sabia.

Meu avô era o chefe de família... o provedor...o cabeça do casal.

Essa é a história dos avós de todos nós...ou quase todos... nenhuma novidade.

Acho que foi lá pelos anos setenta, quando houve uma “grande queima mundial de sutiens”, ou seja a grande revolução feminista, que as coisas começaram a mudar.

A sociedade passou a exigir um maior acumulo individual de bens e capital. Nenhuma mulher se contentava - ou provavelmente nem podia - em ser apenas “do lar”.

Os filhos que antigamente tinham a formação de princípios de ética, respeito e até religioso em casa, passaram a ser “formados” pela sociedade, em particular pelas escolas.

Os professores que eram chamados de “senhor professor”, passaram a ser chamados de “tios”, provavelmente pela falta de um tio de verdade – tio pra mim continua sendo apenas o irmão do pai ou da mãe.

A independência da mulher a obrigou a ser não apenas mãe, ou quem sabe professora ou bibliotecária (digo isso sem nenhum demérito). Ela quer, e a sociedade competitiva exige, que ela seja bombeira, pedreira, motorista de trator, piloto de avião, profissões de mais alto risco que exigem mais preparo físico.

Para abraçar uma dessas profissões, a mulher não pode ser “apenas” igual ao homem, deve ser “melhor” que ele.

Com toda essa conquista a mulher continuou ainda sendo a responsável pela casa e filhos, ou seja, uma tripla função.

Cuidar de casa é sem dúvida mais fácil hoje em dia, com tantos aparelhos, coisas descartáveis, comidas prontas, lavanderias e uma diarista dá pra ir levando.

Quanto aos filhos, aí poderia surgir um problema, mas é facilmente contornado.

Uma babá, escolinha maternal, aula de natação, caratê, inglês, balé, ginástica, desenho, música... e eles ficam “ocupados” durante o dia inteiro. À noite estão tão cansados que nem dão trabalho.

Os pais só se surpreendem quando uma criança de três anos faz gestos obscenos ou fala palavras que eles tem certeza que não ensinaram. O menino chega pra mãe e diz “quero cagar” em vez de “fazer cocô”, como a família usualmente fala.

Aí começa a “formação” ditada pela sociedade...

Acho que vou parar por aqui por enquanto...

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 15/01/2010
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