O SEGREDO DO VOVÔ E DA VOVÓ
O SEGREDO DO VOVÔ E DA VOVÓ
Tive a felicidade de conhecer meu avô João de Aredes e minha avó Ana Bacana. Ele já do alto dos seus 80 anos e ela 72 anos de idade. Eles tinham hábitos cada qual no seu embornal. Meu avô era colecionador de revistas em quadrinhos, moedas antigas, e, sobretudo dinheiro. Só que o dinheiro do vovô sumia misteriosamente. Nem a avó sabia onde ele ia parar. Minha avó mascava chicletes de fumo. Eu explico: ela cortava os pedaços pequenos de fumo de rolo ou de corda. Pegava os toletes ¨fedorentos¨ e os passava na cinza do fogão à lenha. Depois colocava um pedaço do fumo encinzentado no canto da boca. E assim ficava a mordê-lo mascando-o. Um pedaço de fumo durava horas e horas. Assim ela ficava sentada em seu banquinho de madeira na cozinha, matando o tempo e vendo a hora passar ao infinito.
Na casa todos conheciam os hábitos dos avós. Eu ficava intrigado com uma coisa: onde o vovô guardava o dinheiro? O que ninguém sabia era onde ele estava escondido ou amoitado no terreiro. E para que ele guardava sempre um pequeno rolo de fumo sempre que o comprava no mercado municipal, depois de enfeitar o pescoço da vovó com uma corda de fumo de corda.
Vovô havia mandado fazer um caixão. Caixão mesmo... De mais de 2 metros de comprimentos por 80 de largura. O caixotão tinha uma chave que era trazida à cintura, no correão do pai-velho a 7 chaves. A vovó tricotava, costurava e era experte na cozinha nas quitandas, bolos e doces diversos, inclusive o de jenipapo que apanhava no jenipapeiro do pasto, perto do ribeirão da onça.
Vovô guardava muitas outras bugigangas como caixa de fósforos, pacotes de cigarros de palha vazios? Que nada! Recheados de dólares, papéis e mais papéis de vários tipos, qualidade e tamanhos. E os anos iam e vinham. O tempo não corria, plainava sobre o mundo universal-cósmico. Vovô e vovó envelhecendo, nós seus netos, crescendo, estudando, trabalhando, casando, uns enriquecendo outros empobrecendo... E a vida continuava às vezes bela, noviça, às vezes ruim, solitária; Ela às vezes era romântica, às vezes surrealista até demais. Aí era que a vida testemunhava o seu final: a morte sempre rondava a gente, nossos amigos, nossos parentes, confrades e confreiras... ( Salve Saul Alves Martins, o folclorólogo )... Que Deus o tenha a sua direita, bom companheiro e camarada...
E a morte visitou vovô João de Aredes. O levou para o fundo da terra seu corpo e sua alma e espírito subiram ao mais alto do Céu. Vovó ficou internada no nosocômio por uma semana. A casa ficou meio sem graça. O vovô gostava muito de contar e de ouvir uma boa piada. Que Deus o tenha a sua direita, meu boníssimo pai-velho.
Num domingo meu pai resolveu abrir o ¨caixotão¨ do vovô. Muitas surpresas vieiram a tona, aberta a tampa do móvel, ainda bem conservado e feito de madeira nobre. Por curiosidade peguei as coisas miúdas e fui espiando o que havia de interessante ou dentro das caixas de fósforos, dos pacotes de cigarros de palha, das caixinhas de papelão e dos embrulhos amarrados com barbantes. E para mais surpresa... Surpresa...
Havia dinheiro escondido dentro dos objetos... Muito dinheiro, inclusive dólares americanos... Aí chamei os presentes e foi uma alegria geral...
Minha família ficou remediada com a herança do vovô: meu pai pagou suas dívidas, e, a vida sorriu de novo dentro da nossa casa, graças às manias do vovô... Que à época chamávamos de bons hábitos...
F I M
Limagolf