CRÔNICA PARA O MENINO QUE PERDEU A MÃE

Compreendo menino, que a sua dor não permite que você deposite um rio junto aos meus olhos o leite do seu sorriso. Compreendo menino, que a sua alma ainda está embrulhada com o último abraço de sua mãe. O último abraço é algo que corrompe o nosso medo da vida. O último abraço mata em nós algum impensável caminho.

Menino, mesmo com enorme esforço, consigo compreender um pouco da sua dor. Se pudesse e soubesse como eu colocaria uma flor na sua alma. Eu abriria a sua triste alma e ofertaria um carinho simples, porém fraterno. Não tenho, menino, a pretensão de repor o amor de sua mãe. Só queria a mágica de poder (ao menos por cinco minutos) te mostrar beleza na vida.

Perdeste, por obra de Deus, menino, o calor singelo e suficiente de mãe. Mas pode ainda se distrair olhando estrelas imaginárias e colher no suco da vida alguma doce lembrança.

Perdeste a fé e não há brilho no seu sorriso. Como uma estrela que morreu há milhares de anos e ainda não recolheu a sua luz, é o seu sorriso, menino. Ele ainda está acesso, mas mantém a viva chama que o faz infinito. Seu frio sorriso, menino, não tem mais a graça das gaivotas em movimento. Eu quero chorar segurando a sua mão, mas ai, que não posso te oferecer nenhum conforto. Também sou órfão de alguma e impossível coisa. Soubesse eu de quê, menino, te abraçaria e te chamaria de irmão.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 14/01/2010
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