DALVA DE OLIVEIRA, A ESTRELA VOLTA.
CARLOS SENA
A estrela Dalva ressurgiu na Vênus Platinada. Retornou um velho tema que mexe com a gente como se novo fosse: O AMOR. Traições, calúnias e difamações foram a tônica do romance de Vicentina, ou a Dalva de Oliveira com Herivelto Martins.
O glamour, naquela época, passava pelo rádio e os cantores tinham especial inserção. Estabelecia-se a "era de ouro do rádio"! Significava o que hoje a TV é pra nós, especialmente a Globo no que concerne a audiência. Nesse ninho de "cobras" e diante de verdadeira constelação, eis que Dalva insurge maviosa integrando o Trio de Ouro, movida pela paixão de Herivelto. Talento de sobra, amor de sobra pelo marido, respeito de menos e traição de mais foram patrocinadas por Herivelto. Logo irrompem os laços, pois o macho inveterado não vive de um amor só, como se dizia antigamente. Entram outras na vida dele, o marido, e ela, orgulho ferido vai a forra. Mas se deu mal, pois o machismo da época era exacerbado. Como estrela não se perde na escuridão. Dalva continua sozinha, fazendo sucesso, mesmo rompendo com o Trio de Ouro – a despeito de o marido torcer contra ela desejando vê-la na sarjeta. Como lugar de estrela é no céu, sobrou-lhe brilho e não faltou compositor para lhe dar lindas canções.
Certamente a vida de Dalva foi marcada pelas melodias do ex-marido. Mas ela gravou músicas de Roberto Carlos, Chico Buarque, Silvio Caldas, João de Barro, Max Nunes, Noel Rosa, Zé Keti e tantos outros.
Ímpar, no trinar da sua carreira, foi em frente comovida e comovente! Administrou a perda dos filhos que foram levados para um orfanato e seguiu os destinos dos pardais e das cotovias no embalo das suas cordas vocais. Sua "barra" para suportar a se-pa-ra-ção foi pesada, não fosse Darci Gonçalves, com sua irreverência, sempre dando forças e coragem, pois naquele momento estava em plena carreira solo.
Tenho a impressão que Piaf e Dalva têm talentos parecidos e histórias particulares de afetividade idênticas. Ambas sofreram muito por amor, mas devem ter sido felizes à maneira de cada uma. Acho mesmo que Herivelto não conseguiu amar a outra como quis demonstrar, porque a aura de Dalva, como estrela, não saia da sua cabeça, qual auréola de anjo nos dias de procissão. Arrisco dizer que se amavam, mas os amores só assim se definem pelo conjunto de sentimentos misturados que nem sempre os amantes são competentes para administrar. Talvez se Dalva tivesse vocação de "Amélia" o casamento não tivesse se desfeito. Mas ela era firme e tudo indica que pensava nos direitos do homem e da mulher, tipo: se o homem trai a mulher pode trair, e vice-versa. Dalva traiu como que a dizer que Herivelto pagaria na mesma moeda. Mas, ela jamais foi a mesma e, em conseqüência disto, sua saúde ficou abalada imensamente.
A vocação para grandes cantoras é um diferencial do Brasil. Elis, Elizeth Cardoso, Marlene, Emilinha Borba, Carmem Miranda, Araci de Almeida, Maysa, Elza Soares, etc., e ela, A ESTRELA DALVA. Aquela que “no céu desponta e a lua fica tonta com tamanho esplendor. E as pastorinhas, pra consolo da lua, vão cantando nas ruas lindos versos de amor “...
O retorno de Dalva pela TV levou os jovens a ficarem boquiabertos com seu talento. Prova de que ser jovem não é ser alienado, nem só gostar de "bate-estaca". Os jovens também puderam compreender como os seus amores têm condimentos do de Dalva. Porque não há modernidade para amenizar dores de amores, tampouco para barrar seus prazeres.
A Estrela se digladiou com o marido através dos jornais da época e pelas canções no rádio. Uma delas foi BANDEIRA BRANCA, quando finalmente Herivelto resolveu, a pedido da sua então atual esposa, dar um basta no disse-me-disse que movimentou a sociedade carioca da época.
Um dia, mais uma vez parecida com PIAF, nossa “cotovia” parou de cantar. Tal a “vida que vem em ondas como o mar”, retornou agora pela TV e fez feliz uma imensidão de fãs em todo o Brasil, inclusive o Mário Francelino, no Recife, proprietário do CANTINHO DA DALVA, no bairro de Porto da Madeira em Beberibe. Para quem não sabe, nesse "CANTINHO" existe uma exposição de roupas de Dalva e mais alguns objetos. Peri Ribeiro, sempre que vai ao Recife, visita Mário. Assim, o “CANTINHO” se mantém vivo e com uma clientela fiel, meio “under ground”.
Carlos Sena - csena51@hotmail.com