Quando será o dia de minha sorte?
Theo Padilha
Aproveitando a síndrome da loteria, quero relatar um fato que também deixou lembrança no meio tavorense. É uma história muito triste. Digna de uma manchete de jornal. Aconteceu nos anos oitenta. Este narrador havia trocado de emprego e enquanto fazia venda de cerveja me deparei com um motorista da revenda onde havia trabalhado. Esse rapaz é uma pessoa muito bacana e sempre teve muitos amigos. Alfredo era o seu nome. Ele e seu irmão idoso estavam num pequeno bar pagando cervejas e rindo muito. Esse irmão de Alfredo se chamava Horácio e já faleceu. Horácio era também muito bom. Só que tinha um problema. Era surdo-mudo. Perdera a língua numa briga. Dizem que ele havia mexido com a mulher de um valentão. Isso eu não sei se é verdade.
— Vamos beber Theo, hoje o mano está pagando tudo! – exclamou Alfredo me chamando num canto e mostrando um cartão de Loteria da Caixa Econômica. Logo, logo, o bar estava cheio de gente, serrotes e curiosos. Era comum na pequena cidade todos carregarem o resultado da loteria. Imediatamente pequei o meu da pasta e confesso que fiquei muito feliz pela sorte daquela família. Fiz um gesto para o “felizardo”, com o polegar, dando um positivo para o pobre homem.
— Si!... Si!... Si!... – respondeu Horácio, era só isso que saia de sua boca. E seu apelido era Si-si, por causa disso. Todo mundo ali já havia conferido e confirmaram. O resultado era aquele mesmo.
Ato contínuo, os irmãos seguiram para a lotérica para ver quanto ele havia ganhado. O japonês, muito frio, lacônico, dono da casa deu uma risada, meio amarela e com uma pontinha de ciúme.
— Garantido, vocês não ganharam nada! Esses números são do concurso anterior!
E o pior que era a pura verdade. O pobre Si-si, sem palpite havia copiado o resultado anterior e fizera um cartão com aqueles números. Foi uma tristeza geral. Não podia explicar a história porque era surdo-mudo.
Joaquim Távora, 3 de janeiro de 2010.