O primeiro dia.
O primeiro dia do ano passei em casa, do jeitinho que gosto. Fiz um almoço tradicional para quatro pessoas, que acabaram sendo seis. Meu sobrinho Valério veio, com sua mulher, nos visitar. Sentados a mesa da cozinha comemos arroz com lentilhas, que dessa vez fiz com lingüiça portuguêsa fatiada o mais fino que foi possível, substituindo o bacon, acompanhado de um bom frisante e coca cola. Sobremesa, doces cristalizados vindos de Três Corações. Após algum tempo de prosa e a cozinha já arrumada, expulsei-os de lá enviando-os para a sala de TV. Pouco depois me juntei a eles e a prosa rolou solta por um bom tempo. Minha mãe, como sempre, na fase das reminiscências, houve por bem contar o quanto gostava das lides domésticas, embora tenha sido uma mulher que desde os dezoito anos até se aposentar foi funcionária dos Correios. Realmente ela sempre foi boa nisso. Mãos de ouro em tudo o que tocava e ainda toca. Confessou ainda que tinha compreendido enfim que não se pode mudar as pessoas, como ela queria. Acredita que nascemos prontos e que não mudamos. Não era hora de contradizê-la, afinal estávamos ouvindo suas reminiscências. Nessas reminiscências ela não deixa nunca de dar uma alfinetadinha em meu pai, o que as vezes me aborrece as vezes me diverte. Diz ela que sempre fez tudo em casa, até trocar as lâmpadas queimadas e que uma vez, estando grávida, teve medo de colocar uma cadeira em cima da mesa e subir na cadeira para trocar a lâmpada queimada da sala de jantar e então pediu ao meu pai que o fizesse. Ele foi até a rua e trouxe o seu concunhado para trocar a lâmpada para ele. Dessa vez rimos, e enquanto eu pensava como as pessoas se ferem por motivos tão tolos e essa ferida atravessa uma vida doendo, a conversa continuou com ela dizendo que desde menina era assim: quando ia visitar alguém na zona rural de nossa vilazinha, tinha que se segurar para não pegar uma vassoura e varrer o pátio frontal e o quintal das casas. Não concordava que pobreza e sujeira tivessem que andar juntas. Vera, minha irmã, por sua vez disse que não se conforma com janelas fechadas e que, onde vai ela acaba dando um jeitinho de abrir as janelas. Minha mãe lembrou então de quando Vera era bem pequenina e ia na casa de parentes, ficava atenta as pessoas e quando elas se distraiam dava uma arrumadinha na casa, por exemplo, enfiar bem os lençóis debaixo do colchão. Ninguém me perguntou. mas eu disse: o que me incomoda mesmo são quadros tortos na parede e se eu não posso arrumá-los fico de costas para eles. Mas...eu disse, a primeira coisa que faço quando entro em casa que não seja a minha é olhar bem para ver se acho uma revista ou um livro e ficar lendo. É ninguém muda mesmo, concluímos. Minha irmã hoje é designer de interiores e jardineira de mão cheia...quanto a mim, passo a vida lendo e escrevendo. Lavras, 01/01/2010
O primeiro dia do ano passei em casa, do jeitinho que gosto. Fiz um almoço tradicional para quatro pessoas, que acabaram sendo seis. Meu sobrinho Valério veio, com sua mulher, nos visitar. Sentados a mesa da cozinha comemos arroz com lentilhas, que dessa vez fiz com lingüiça portuguêsa fatiada o mais fino que foi possível, substituindo o bacon, acompanhado de um bom frisante e coca cola. Sobremesa, doces cristalizados vindos de Três Corações. Após algum tempo de prosa e a cozinha já arrumada, expulsei-os de lá enviando-os para a sala de TV. Pouco depois me juntei a eles e a prosa rolou solta por um bom tempo. Minha mãe, como sempre, na fase das reminiscências, houve por bem contar o quanto gostava das lides domésticas, embora tenha sido uma mulher que desde os dezoito anos até se aposentar foi funcionária dos Correios. Realmente ela sempre foi boa nisso. Mãos de ouro em tudo o que tocava e ainda toca. Confessou ainda que tinha compreendido enfim que não se pode mudar as pessoas, como ela queria. Acredita que nascemos prontos e que não mudamos. Não era hora de contradizê-la, afinal estávamos ouvindo suas reminiscências. Nessas reminiscências ela não deixa nunca de dar uma alfinetadinha em meu pai, o que as vezes me aborrece as vezes me diverte. Diz ela que sempre fez tudo em casa, até trocar as lâmpadas queimadas e que uma vez, estando grávida, teve medo de colocar uma cadeira em cima da mesa e subir na cadeira para trocar a lâmpada queimada da sala de jantar e então pediu ao meu pai que o fizesse. Ele foi até a rua e trouxe o seu concunhado para trocar a lâmpada para ele. Dessa vez rimos, e enquanto eu pensava como as pessoas se ferem por motivos tão tolos e essa ferida atravessa uma vida doendo, a conversa continuou com ela dizendo que desde menina era assim: quando ia visitar alguém na zona rural de nossa vilazinha, tinha que se segurar para não pegar uma vassoura e varrer o pátio frontal e o quintal das casas. Não concordava que pobreza e sujeira tivessem que andar juntas. Vera, minha irmã, por sua vez disse que não se conforma com janelas fechadas e que, onde vai ela acaba dando um jeitinho de abrir as janelas. Minha mãe lembrou então de quando Vera era bem pequenina e ia na casa de parentes, ficava atenta as pessoas e quando elas se distraiam dava uma arrumadinha na casa, por exemplo, enfiar bem os lençóis debaixo do colchão. Ninguém me perguntou. mas eu disse: o que me incomoda mesmo são quadros tortos na parede e se eu não posso arrumá-los fico de costas para eles. Mas...eu disse, a primeira coisa que faço quando entro em casa que não seja a minha é olhar bem para ver se acho uma revista ou um livro e ficar lendo. É ninguém muda mesmo, concluímos. Minha irmã hoje é designer de interiores e jardineira de mão cheia...quanto a mim, passo a vida lendo e escrevendo. Lavras, 01/01/2010