Acorda pra vida, Bela!
Não sei se rio ou se choro, se tenho pena ou se repudio tal atitude diante da vida. As sensações se misturam quando me ponho a meditar numa história que ouvi. Como é que pode nos dias atuais pais ensinarem seus filhos a fugir da vida, colocando-os numa redoma e assim fazendo-os acreditar que essa é a melhor forma pra se viver?
A história que ouvir foi: Um casal teve seis filhos, quatro mulheres e dois homens. Todos sempre ouviram que enquanto os pais fossem vivos não precisariam trabalhar. Dormiam e até hoje dormem até às 13 horas. Mesmo depois de casados continuam dependendo dos pais para tudo. As filhas casaram, mas não assumiram a nova vida. Os pais compraram uma grande área, construíram uma casa pra cada filho e ali todos passaram a viver mesmo depois de casados. Acordam a hora que querem, vão para a casa dos pais, depois vão fazer compras, ou para uma mesa de bar, ou então, em frente à TV deixando o tempo passar.
Para as filhas passaram o seguinte ensinamento: “Tendo um prato de comida e um teto pra cobrir a cabeça é o suficiente. Contentem-se com isso, pois não podem querer mais. Mulher deve ficar satisfeita com isso porque é muito sofrida a vida de quem precisa trabalhar fora. Acordar cedo, sair na chuva, cuidar dos serviços de casa...Não é bom trabalhar para se sustentar.”
Assim formaram as cabecinhas dos filhos, dos netos e por aí vai. Acordam pra comer e vivem pra dormir. Não sei quem é digno de pena. Se os pais ou seus rebentos. Conversando com uma das filhas ouvi da sua boca a seguinte explicação: “Estou num casamento de cinco anos, meu esposo não me dá nenhum centavo, mas não tenho coragem pra trabalhar. E não deixo essa relação doentia porque estou satisfeita em ter um prato de comida e uma cama pra dormir.”
Olhando para aquela mulher de trinta e seis anos, jovem, com saúde e toda condição para construir sua vida em cima de algo que pudesse se orgulhar, mas infelizmente, por ter a mente tapada, não consegue acordar para a vida. Disse-lhe o que achava. Mostrei quanta coisa estava deixando passar, o tempo perdido e o quanto ela poderia ter construído nesses anos de vida que passou entre os lençóis. Ela me respondeu: “ Eu não suporto a realidade, prefiro dormir para não enfrentar o que não tenho estrutura para encarar. Tentei trabalhar como empregada ou acompanhante, mas não sabia nem mexer na máquina de lavar, nem no formo de micro ondas, nem no liquidificador moderno que tinha na casa.”
“É, Bela”, lhe respondi. “A vida é mais do que isso. Quando seus pais morrerem e o salário deles não mais existir, já pensou como vai ser a vida de vocês? Acorde para vida, antes que seja tarde demais.”