Deficit de atenção
Minha mãe diz que eu sou lerda e não faz segredo disso para ninguém. Meu cunhado por sua vez é mais sofisticado, diz que eu tenho deficit de atenção.
Quis mostrar lhes que estavam errados, que meu problema era outro. Expliquei direitinho a teoria que encontrei no livro Mulheres que Correm com os Lobos de Clarissa Pinkola Estés, mas eles não ficaram muito convencidos.
Conta Clarissa que anatomistas muito antigos diziam que o nervo auditivo dividia-se em três caminhos, nas profundezas do cérebro, para alcançar o seu objetivo – que era o de fazer algo ser ouvido. Um deles levava as conversar rotineiras, do dia a dia, sobre o tempo como lugar comum, fofocas e coisa e tal. O segundo era o roteiro percorrido para que o indivíduo adquirisse conhecimentos práticos e pudesse exercitar a arte criativa, mas o terceiro, esse era próprio da Alma e era utilizado para ouvir orientações e adquirir conhecimentos transcendentais enquanto estivesse aqui na Terra. E eu, já metendo o meu bedelho, perguntei ao livro que não respondeu: mas quem daria essas orientações e ensinamentos que levaria o conhecimento do indivíduo às alturas transcendentais? A resposta eu mesma dei: o Espírito. Essa é a função dele. Eles me olharam assim com olhos de quem queria dizer: se já está ouvindo vozes não é lerda nem tem deficit de atenção: é doida mesmo. Nem adiantaria explicar-lhes que a pessoa que pode usar os dois últimos caminhos da audição não vai de forma nenhuma se preocupar nem onde pôs os óculos, a chave, o guarda-chuva, ou até errar o caminho de volta para casa. Inclusive porque quando dá três pulinhos e chama São Longuinho os gnomos voltam correndo para trazer de volta os objetos surrupiados.             30/12/2009