por um palito de fósforos"!
Por um palito de fósforo!
(Theo Padilha)
A capital paranaense, Curitiba, para quem quer, é uma fonte de empregos. É por isso que o inchaço populacional continua em caráter crescente. Muitas pessoas trocam o gostoso convívio de seus familiares para ali arriscar uma melhora de vida. Alguns conseguem seus objetivos, outros não conseguem e tem que voltar. É o caso de nossa principal personagem.
Olinda, como aqui a chamaremos, arrumou suas malas, comprou passagem e partiu para ao encontro de seu futuro e de seu sonho. Assim que chegou, numa fria manhã, já estranhou o clima. Bem diferente do seu norte velho paranaense. Aquele sotaque. O “leite quente”. A Rodo-estação apinhada de gente. Levou nossa amiga até a pensar numa volta. Como já tinha ali alguns parentes, com o endereço na mão tomou um táxi e rumou para o Pilarzinho. Muito desconfiada ela olhava no taxímetro toda hora. Contando o seu dinheirinho.
— Ainda falta muito moço? – perguntou timidamente.
Eram cinco horas da manhã. E o taxista nem ouviu, envolvido nas notícias de seu “Furacão” pelo rádio.
— Hein, moço, falta muito? - repetiu a pergunta.
— Annnhhhh? Ah sim! Estamos chegando. Esta é a Rua Aurora... 386, 388, 410 é ali, 520! Pronto, senhora chegou! - respondeu o gordo taxista.
A casa de seus tios era de madeira, mas muito bonitinha igual a que Olinda tinha nas amareladas fotos. Ela desceu do carro, o rapaz depositou a mala aos seus pés e depois de pagar a corrida, bateu timidamente na porta. O tio meio sonolento e de pijama veio abrir a porta. Antes olhou pelo vidro para ver quem batia. Ele já sabia que ela viria.
— Benção, tio! Como vai tudo bem? E a tia Geralda?
— Tudo bem, Olinda! A tia ainda está dormindo! Vou chamá-la! – respondeu o tio, que era aposentado da prefeitura. Com sua rouca voz. A tia também.
E foi mais ou menos assim a chegada de Olinda naquela capital.
Comprou um jornal e logo achou o endereço de uma rica família que precisava de uma doméstica. Que era o único emprego que preenchia seus requisitos. Logo começou a trabalhar. E passados alguns anos ela já estava perfeitamente entrosada com aquela família. Ela gostava muito do “seu” Daniel e de “dona” Glorinha. Era apenas o casal que ali morava. Os filhos já haviam se casado e moravam fora.
Certo dia dona Glorinha lhe pediu que queimasse um monte de jornais usados e velhas revistas ou outros papeis imprestáveis que encontrasse na grande casa. Ela vasculhou todos os cantos. Até debaixo dos colchões. Depois de colocar tudo dentro de um saco ela foi procurar fósforos para incinerar tudo aquilo na velha churrasqueira do fundo do quintal, quando se deparou com o seu Daniel gritando como um louco. Arrancando os cabelos.
— Maria da Glória! Olinda! Fomos roubados! – esbravejava repetidas vezes.
— O que houve patrãozinho? – perguntou Olinda.
— Meu dinheiro que estava debaixo do colchão sumiu!
Ele confiava muito na mulher e na sua empregada, e achou que fora mesmo furtado. Logo Maria da Glória apareceu, chamou Olinda e lhe perguntou.
— Você mexeu no nosso quarto Olinda?
— Mexi sim patroa!
— E não viu os dólares lá?
— Tinha umas notas verdes parecidas com dinheiro... Até achei que eram de brincadeira... Propaganda de alguma loja! – respondeu a doméstica meio assustada. Olinda não conhecia dinheiro, muito menos dólares. E correram todos para o fundo do quintal. Os mil e quinhentos dólares ainda estavam intactos no saco próximo da churrasqueira. Tudo em notas de cem. Foi um alívio total. E todos se regozijaram com a falta de um palito de fósforos.
Copyright© by Theo Padilha. Em 29.12.2009.