OS MÉDICOS E OS MONSTROS
Leiam o parágrafo abaixo, onde transcrevo na íntegra o juramento prestado por todos os formandos em medicina na iminência de iniciarem na profissão, em seguida vocês verão onde quero chegar.
“Eu, solenemente, juro consagrar minha via a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.”
Indispensável referir, que a grande maioria dos médicos em atividade faz justiça a cada palavra citada e tratam com zelo e dignidade seus pacientes, um dos quais, o Dr. Ben-hur Ferraz Neto recentemente concedeu uma entrevista corajosa nas páginas amarelas da Revista Veja (edição 2134 de 14/10/09) onde entre outras coisas, defende que sejam instaladas “caixas-pretas” nas salas de cirurgia dos grandes hospitais, visando que todo o procedimento executado pelos médicos seja registrado (leitura a qual recomendo, pois os tópicos abordados são de suma importância para quem necessite se submeter a alguma cirurgia).
Ocorre que por experiência própria, pude constatar que em paralelo aos bons profissionais, existe uma máfia de médicos e hospitais que cometem verdadeiros atentados contra a vida ou o bem estar dos pacientes.
Há poucos meses, ao tratar um problema de hérnia de disco na coluna, meu caso foi diagnosticado como grave, sendo necessária intervenção cirúrgica. Tratando-se de uma cirurgia delicada, procurei cercar-me de todas as informações possíveis. Consultei com vários médicos, li muito sobre o assunto, conversei com várias pessoas que já haviam passado por intervenção cirúrgica similar e verifiquei que existem mais de cinco tipos de cirurgia para o meu caso, umas menos invasivas e outras bem agressivas.
Qual não foi minha surpresa, no decorrer da minha investigação à la Sherlock Holmes, que o critério de muitos médicos para estabelecer o tipo de cirurgia não se dá pelo caso em si do paciente, e sim pelo maior número de próteses que ele puder inserir no corpo do mesmo.
Isso mesmo pessoal, o esquema é simples: existem vários médicos que recebem propinas ou “comissões” dos fabricantes dos materiais, em contra partida, existem hospitais que visando “coibir” tais práticas, criaram corpos médicos (alguns com no máximo seis membros) onde somente estes profissionais podem ministrar cirurgias, claro que eles se reservam o direito de estabelecer o tipo de cirurgia e os materiais a serem utilizados, criando além de um sistema de comissões um gritante monopólio. Só para citar um exemplo específico, as próteses importadas em sua maioria são de titânio, material que apresenta o menor índice de rejeição e conseqüentemente menor risco para o paciente. Na maioria dos casos onde existem estes monopólios, as próteses que eles recomendam são nacionais, com material de qualidade inferior e maiores riscos.
Outra situação gritante: todas as pessoas que conversei que haviam passado por cirurgia na coluna e tiveram resultados satisfatórios foram unânimes e me aconselharam a operar com um neurocirurgião (para o meu caso), visto que a coluna possui muitos vasos sanguíneos e este tipo de especialização médica é a que possui maior expertise. Salvo as proporções, é como comparar os conhecimentos técnicos de um engenheiro civil com um técnico em edificações. Acham que consegui algum neurocirurgião nas chamadas “equipes”? Claro que não. E quando questionei isso me disseram simplesmente que não havia diferenças entre ortopedistas ou traumatologistas, ou seja, o profissional passa por uma prova e se é aprovado esta apto a operar.
Outro caso comum são as chamadas “operações brancas”, onde não são aplicadas próteses pelo tipo de cirurgia em questão, então o paciente é simplesmente “aberto” e “fechado” novamente, sem nenhuma necessidade. Fazem isso para cobrar o serviço. Não sei o que causa mais asco, se é o ato em si, ou o fato de ser um caso tão corriqueiro que a cirurgia já possui até mesmo um nome próprio.
Mais um alerta, todos estes casos acontecem sistematicamente não só em pacientes atendidos pelo SUS, mas sim em pessoas que possuem planos de saúdes conceituados, como foi o meu caso.
No mundo todo e principalmente no nosso país, o próprio regime capitalista favorece a criação de cartéis, monopólios e negociatas de modo geral. Mas o mais preocupante no setor de saúde, que também se encontra impregnado com estas práticas escusas, é que não são somente nossos bolsos lesados, mas nossos próprios corpos.
A ação destes verdadeiros mercadores de corpos nos permite imaginar, que nada mais são que a atualização para os nossos dias do romance O Médico e o Monstro, de Robert L. Stevenson, escrito em 1886 e que transcorre em Londres no século XIX, onde um médico do período vitoriano através do estudo de medicina transcendental consegue transmutar seu corpo entre sua personalidade normal, Dr. Jekill, e seu lado negro e obscuro, Mister Hyde.
Fiquem atentos meus amigos, pois convivendo harmoniosamente com profissionais éticos e sérios, existem vários Dr. Jekill´s prontos para liberarem seus Mister Hyde´s quando estivermos inconscientes em suas mesas de cirurgia, explicitando um tema importante relacionado à moral e à sociedade: o bem e o mal convivem dentro de cada ser humano. Estes Médicos-Monstros não ganham vida pela ingestão da beberagem, e sim, são libertados do interior de cada um, onde já viviam, embora reprimidos.