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Quando era menina e ia ao Centro Espírita com minha mãe, o que mais gostava era ficar olhando o presépio que tinha no jardim da casa ao lado: tinha o que comumente se coloca, mas tinha muito mais:
pontes, cachoeiras, montanhas cheias de casinhas, escadas de pedras, moinhos de vento, deserto com areia, oásis com lago e tamareiras, ladeiras, fontes, homens montados em burros, mulheres com cântaros no ombro, bois puxando carroças, árvores, jovens carregando balaios de olivas, uma beleza! Luzes piscavam e tudo funcionava!
De repente, minha mãe vinha me buscar, estava na hora de começar o culto.
Mais crescida, em nossa casa armava-se uma árvore todos os anos, sempre pobrezinha, de gravetos cobertos de algodão, outras de papel de seda verde, e, a cada ano, era de um material diferente, mas sempre com bolas e bolinhas, só isso.
Os presentes apareciam como por milagre, aos pés da minha cama, quando eu acordava. Bendito Papai Noel!
Um dia, já que com sete anos e ainda me deliciava com a chupeta, um tio pegou uma espingarda, e olhando para uma mangueira que havia no quintal, com carinho mas sem piedade, falou:
- está vendo o Papai Noel lá em cima da árvore? Eu Olhava, olhava, coração batucava, mas não via. E ele prosseguiu:
- se não jogar esta porcaria agora, por cima do muro, vou matá-lo! Suspendeu a arma, na mira do bom velhinho. Imediatamente, aflita e tremendo, berrei:
- Não!!! eu jogo, eu deixo!. E nunca mais chupei o "bico".
Com treze anos minha mãe me chamou “para uma conversa” e disse-me que Papai Noel não existia - surpresa e desgosto - Passei o dia fazendo greve de fome, sentada sob a sombra de um abacateiro no quintal, numa melancolia só num “choro desatado” como se diz por aqui. Mas ainda acredito nele.
Movida pelas circunstâncias da vida, que afasta a família de nós através da grande viagem, e morando sozinha, resolvi armar presépios logo no primeiro dia de dezembro.
Há meses estou tomando medicamento para depressão e até o dia 22 não tinha armado, não estava com vontade de fazer nada. Mas, à noite, resolvi: vou armar.
fiz como sempre fazia: Primeiro cubro a mesa com um pedaço de juta e em seguida espalho musgo, Inicio com a manjedoura. Depois coloco Maria e converso coisas do tipo: - você vai se mãe... Depois vem o Menino Jesus e agradeço a Ele por ter nascido. Depois o Anjo Anunciador, quando peço: cuida de nós! Em seguida, coloco José e digo: Jesus, este é teu pai adotivo. Em seguida os Reis Magos e falo: vocês vieram de tão longe..., depois o pastor de ovelhas, a vaca, o burro e a ovelha, o básico.
Mas agora o presépio foi enchendo-se de bichos: tem uma coruja no teto da manjedoura, gatos, três cachorros, tartaruga, três sapinhos, dois elefantes. ...por que vocês não deveriam estar aqui, né mesmo? Por último, coloco uma estrela acima da manjedoura e o conjunto de luzes. É um ritual. Este ano, após terminar senti-me plena, cheia de alegria.
Armar presépio nos transforma, pelo menos por alguns minutos. Estava então armado o presépio e meu coração leve, limpo e feliz.
Descobri que armar presépio é terapêutico.
IMAGEM: o presépio (ainda sem as luzes) - Yara Cilyn