O PRÓDIGO E O AVARENTO
 
 
“O mestre disse: o pródigo é arrogante e o avaro é  mesquinho.
 É preferível a mesquinhez à arrogância”   
Confúcio
 
“O avarento guarda o seu tesouro como se fosse seu, mas teme servir-se dele, como se pertencesse a outrem”   
Bion
 
Aprendi que uma tese é o retrato do pensamento daquele que a define, e que aceitamos o resultado de uma pesquisa quando este nos favoreve, tanto quanto rejeitamos, quando colide com nossos interesses.
 
No dizer de Confúcio, o avaro teria menos virtude que o pródigo, e Bion diz que o avarento teme servir-se do que lhe pertence, como se a outrem pertencesse.
Por mim, faço um juizo de que pródigo e avarento sejam  faces de um mesmo sujeito, cujas dualidades se comunicam, na proporção do ângulo em que ele é visto.
 
Pródigo é definido nos dicionários de todos os idiomas como sendo o indivíduo que “dissipa seus bens, gasta mais do que o necessário, esbanja.”
Avarento é o que “alimenta paixão por juntar dinheiro”.
 
Pessoalmente não conheço um pródigo que gaste mais do que o necessário, quando o que gasta ou esbanja tenha sido conseguido com seu próprio suor, e isto é fácil de entender, porque se gastasse do seu suor, não teria como acumular para gastar além do necessário.
Tenho, então, que o pródigo dissipa e esbanja o suor de um outro, enquanto o avarento tem, como desse outro, o que na verdade é seu. 
É sabido que a inveja provoca uma ira incontrolável no sujeito, e que não sendo possuidor do bem que a outro pertence, seu desejo é destruir esse bem, como uma vingança, embora não tenhamos notícias de invejosos confessos. 
A prática mostra que todo pródigo é invejoso, mas nem todo invejoso é prodigo, assim como todo invejoso tem desejo de destruição por vingança, mas nem todo aquele que se vinga, o faz por inveja.
 
O pródigo é um megalomaníaco que cultua seu vício na prática de grandes gastos e não admira coisas pequenas ou necessárias.
Observando detalhes, vemos que o pródigo está sempre envolvido em dívidas com o supérfluo, com o que lhe renda pessoas ao seu redor admirando-o, porque quer que todos vejam e ouçam seu grito de gozo não fálico.
Dentro desse indivíduo habita um ser doente que se julga incapaz de produzir seus próprios limites. Acabando  por tornar-se um consumidor compulsivo, habitualmente vê-se envolvido em dívidas que nunca resgata.
A prodigalidade é uma doença moral.  
 
Confúcio, pela declaração que lhe é atribuída, diz preferir o avaro ao pródigo, e Bion diz que esse avarento guarda seu tesouro como se fosse seu, mas teme usá-lo como se pertencesse a outro.
Nossa legislação pune os dois.
Ao avarento pune por enriquecimento ilícito, pois seus bens teriam sido adquiridos à custa da prática de usura.
Não se fala aqui daquele indivíduo que poupa sobras para os momentos de dificuldades, como vemos na parábola da formiga e da cigarra . Fala-se daquele que arrebanha dividendos para si, sacrificando outros.
O castigo legal dos pródigos é o enquadramento como relativamente incapaz e pode, inclusive, ser excluído da cadeia sucessória, em favor de outros legítimos herdeiros, e para o bem do Instituto Família.
 
Que neste Natal tenhamos equilíbrio suficiente para comemorações dentro das condições que nos sejam favoráveis
e abandonemos a idéia de que a vida é curta, para justificar nossos despropósitos e inconsequências.
Porque a vida talvez seja curta, mas não o bastante para que seja sacrificada ao sabor de fantasias que não levam a Paraíso algum.

Boas Festas.
ZZZ
Enviado por ZZZ em 24/12/2009
Reeditado em 17/04/2010
Código do texto: T1994393
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