Crônicas de Escola ( A Língua é Minha Pátria )
Todos precisamos de reciclagem. Reconhecer essa necessidade é vestir as sandálias da humildade e afastar o perigo da arrogância e prepotência. Até porque, para ser arrogante sem ser bisonho, mas permanecer ridículo, além de ser picado pela mosca azul, é preciso estar preparado.
Independente da profissão que exercemos, amanhã estaremos afastados em relação a hoje e completamente ultrapassados no que diz respeito a ontem. O mundo globalizado que criamos não conhece o deslize e o descaso. O mundo globalizado é uma espécie de versão moderna do enigma da esfinge: atualize-se ou o mundo acabou para você. Entre todas as reciclagens, por onde começar? Acompanhe-me, paciente leitor. Dou-lhe a dica: o Homem é o único animal que fala! Viu? Batata! De todas as reciclagens, a Língua Portuguesa clama por justiça. Nunca foi tão aviltada, embora seja ela o único instrumento de informação e comunicação interpessoais.
No ãmbito da escola, a coisa chega ao nível do seria cômico se não fosse sério. Funcionários de apoio, professores, coordenadores, pedagogos e diretores tratam a Língua Portuguesa com requintes de crueldade. O gerundismo, por exemplo, emplacou. Ameaça virar norma, e, assim, errado são os outros, esses conservadores inveterados.
Para que dizer " eu vou enviar agora...", se eu posso dizer (?) " que estarei enviando agora?". Imagine, caro leitor, o seguinte diálogo que presenciei com uma baita inveja dos surdos:
- Eu vou estar precisando chegar cedo amanhã?
- Professor, eu estarei verificando isso para o senhor. Em seguida, estarei enviando um e-mail com a resposta.
Pois é, amável leitor, bem sei que gerundismo não é questão de estilo, é burrice mesmo. Mas a coisa não para por aí. Que tal você optar como se o "p" trouxesse um "i" com um som por companhia?
Mas há espaço também para o grosseiro. Um professor é chamado para rever suas questões de prova porque existiam situações " ambinguas". Não sei o que aconteceu depois. Quanto a mim, fosse eu o professor, daria uma de egípcia e manteria as questões que, por certo, não deveriam ter quaisquer ambiguidades. E, de sobra, como passadista que sou, sapecaria nelas o aviltado trema.