A busca infindável
Eu assiti ontem à noite o filme "Em Busca da felicidade", com Will Smith, dirigido por Gabriele Muccino. Diretor italiano que é homem, apesar do nome feminino.
Não quero falar sobre o filme. O filme me fez chorar. Mas após assisti-lo pensei em algumas coisas. Coisas sérias:
No boteco, no barzinho, na festinha, em qualquer lugar, você encontrará um casal. Juntos ou perto um do outro, dançando, bebendo cerveja, cachaça, jogando baralho, fazendo um churrasco, escutando Odair José. Cantando "I Just Called to Say I Love You", do Stevie Wonder, em embromation, no videokê.
Ela pode ter uns 140 kg, ter um cabelo que parece uma estopa feita com restos de espuma de um colchão velho e amarelo. Os lábios com batom vermelho-fogo, as unhas rosa-choque, calçando uma sandália havaiana verde e gasta, e com um pedaço faltando que deixa as joanetes de fora.
Ele, com 1,55 m de altura, sem os dentes, dos caninos pra trás, bigode tipo escova de engraxate. A testa lisa que vai até a nuca, com uma camiseta de deputado estadual furada e cortadas as mangas, pra se fazer de regata. Seu suor é inflamável.
No meio de uma festa de aniversário, da reunião de domingo da família, na festa junina da escola, você verá os filhos do casal, os três, correndo pra lá e pra cá, gritando, sem rumo, igual quando você arrasta o armário do porão e saem 25 ratos de trás.
Um toma o doce do outro, um corre atrás do outro, um xinga o outro de "filho-da-puta", a mãe xinga eles de "praga", o pai gruda um deles pela orelha e senta uma palmada na bunda, chacoalha e joga o filho pro lado. O pivete quase cai em cima da churrasqueira ou barraca de quentão, rasga o joelho no chão e fica chorando e berrando, enquanto limpa com os dedos o nariz cheio de catarro verde-musgo líquido, na camiseta branco cor-de-terra.
E, dia sim dia não, os pais se catracam, depois de assistirem ao Programa do Ratinho, com um cd pirata do Wando, de fundo.
E os dois abdômens proeminentes se fundem, os suores se misturam, os pentelhos se engancham. Os dentes que sobram em um completam na boca do outro, igual à última camada de elétrons quando dois elementos químicos se unem, numa ligação iônica, pra formar uma substância composta e perfeita.
E assim vai, até todo o sempre. Lembrando que, depois dos 45 anos, sempre acompanhado de uma batida de amendoim com catuaba.
E eu, que em breve estarei formado, bilingüe, cheio de cultura, orgulhoso da minha origem, fazendo parte da minoria brasileira que tem acesso à Internet, com um emprego estável e rentável, capaz de resolver equações do 15º grau, saber que a capital da Moldávia é Chisnau, que sei que a mariposa macho sente os feromônios da mariposa fêmea a 14 km de distância, não consigo o que o ser humano mais humilde consegue ser: Feliz.