DESASTRE PERFEITO
A idéia desta matéria é abordar o tema comportamental no sentido prático, não havendo qualquer outra intenção de trabalho acadêmico no campo da Psicologia.
Até porque ouso intitular-me cronista (...), e não cientista.
A expressão “Complexo de Cinderela”, embora assim entendida desde os tempos da Gata Borralheira, que ia para os bailes em carruagem de abóbora encontrar seu Príncipe (que comumente viram sapo...), tornou-se mais popular a partir do momento em que iniciou-se a discussão a respeito do comportamento infantil feminino, isto é, da mulher que sonha,sonha,sonha e sempre sonha com algum herói que compareça para resolver todos as suas questões de felicidade e fazê-la rainha de um lar hipotético, onde não há roupa para ser lavada, feijão para ser cozido, bronquite nos filhos, contas para pagar - e , principalmente, ser amada por um homem que nunca esteja cansado, não olhe para a bunda da vizinha e não a abandone, jamais.
Porque a última coisa que essa mulher deseja é resolver-se enquanto pessoa, e seu desejo é de eterna proteção. Primeiro dos pais . Não raro exclusivamente da mãe, porque o príncipe-pai, antes sonhado por sua mãe, costuma passar a vida inteira resistindo à idéia de abandonar castelos de areia e suas vestes de veludo, que ele mesmo costura e remenda com fios de um ouro que não resiste às intempéries, mas ele insiste em não crescer. E nesse existir de micos no cotidiano, acaba por se tornar não um sapo, mas o Bobo da Corte.
Ao toque da meia-noite (ao findar da fantasia), Cinderela voltava pra casa às pressas, no temor da certeza de que, vencida a mentira que pregava a si mesma, suas roupas e sapatinhos de cristal (objetos de sedução) voltariam a ser os de uso diário, no borralho onde vivia (sua realidade).
Cinderela representa, então, a mulher que não quer viver o mundo real, onde somos responsáveis por nossos atos e nossas experiências são o nosso próprio resultado.
As conseqüências, drásticas ou não, serão por nós assumidas, e o prazer também será de cada um,em todos os itens, inclusive financeiro, porque se “a cada Débito corresponde um Crédito”, na tese da Contabilidade, também “Quem pode o mais, pode o menos”.
Compartilhar prejuízos não é um pensamento muito aceito na comunidade, nem mesmo na comunidade familiar, e há que se ater ao fato de que raramente a comunidade é convidada a compartilhar dos bons resultados.
Estes,via de regra,costumamos levar a outras comunidades para que nos vejam sempre como vencedores.
Então fica meio estranho que nunca amadureçamos, vivendo na eterna fantasia de que nossas questões serão resolvidas ao pequeno plim-plim de um sininho mágico que virá modificar nossa vida , e que tudo será resolvido pelo Príncipe, que virá em nosso socorro, levando-nos para seu mundo também imaginário, o de Peter Pan, sobre o qual falarei em próxima oportunidade.
Por último, fica a pergunta:
E os filhos que nascerem de Cinderela e Peter Pan?
Aí, sim, o desastre será perfeito.
Esses temas são abordados em boa leitura nas obras :
Complexo de Cinderela Collete Dowling 1981)
Síndrome de Peter Pan(The Peter Pan Syndrome:Men who have never grown up – syndrome do homem que nunca cresce) –
Dr Dan Kiley
(1983)