Crônica da compensação
Yuca e eu voltamos juntos todos os dias depois do trabalho, quando ela me deixa na estação do metrô e segue para sua casa. São dez minutos em que conversamos sobre nossas paixões e alegrias, e esquecemos as perturbações do trabalho (ou as desabafamos). Pouquíssimo tempo, se comparado às horas em que trabalhamos juntos. Hoje, um dia de tumultos particulares e eventuais, em que o desgaste como sempre foi inevitável, tivemos nossa forma de compensação, da maneira mais bela, simples e gratuita: um glorioso pôr-do-sol, escondido atrás de algumas nuvens pesadas de chuva, formando um degradê dourado que se estendia pelo céu até se misturar paulatinamente com o azul do entardecer. Ela parou o carro e ficamos a observá-lo por um tempo, agradecendo àquilo que de forma tão fortuita nos fazia esquecer de todas as moléstias.