Os últimos dias.
Os últimos dias do ano chegaram. São dias chuvosos e de muito calor. Há um sentido de pressa nas pessoas, como se quisessem que os dias passassem ainda mais rápidos do que já passam. Como se quisessem que eles se afastassem velozmente para terem a oportunidade de recomeçar. É sempre assim, fazemos planos para o próximo ano, mas quando os meses vão passando e compreendemos que as coisas não estão indo como o sonhado, desejamos ardentemente que ele se torne passado para preparar o caminho de um novo futuro.
No entanto, cada dia que passa é menos um dia. Desde que nascemos, desde que somos concebidos, a vida caminha para o fim. É uma estrada sem volta. Queiramos ou não só podemos caminhar um uma direção – em direção a morte. Por isso acho inexplicável essa ânsia que as pessoas têm para que o tempo passe cada vez mais rápido, marcando datas para iniciar algum processo. É sempre amanhã, sempre na segunda, o mês que vem, o ano. A hora deveria ser agora, sem adiamento. Mas é tão difícil aprender isso...
Não gosto do mês de dezembro. Não gosto dessa necessidade que sinto de auto avaliar-me, de passar em revista a minha vida. Fica sempre um gosto de incompletude. Uma sensação de que eu podia ter feito mais do que fiz, ter sido mais do que sou. E menos ainda gosto à medida que vou percebendo que o meu tempo está escoando como grãos de areia entre os dedos. As festas natalinas só me dão vontade de esconder-me debaixo da cama até que passem. Não, os meus natais nunca foram externamente ruins. Mas em meu íntimo nunca foram completos. Sempre falta alguma coisa, sempre falta alguém. Alguém que se foi para não mais voltar, alguém que poderia ter vindo e não veio. Alguém que certamente não virá mais em próximos natais e sua presença nada mais é do que a certeza de sua breve ausência.
São dias para presentear, os últimos dias. Presentes, na maioria das vezes, inadequados. Mesmo assim aqueles que não têm a quem presentear, nem têm alguém para presenteá-lo, sofrem. É tempo de comparação. De exigências. Todos querem receber o melhor, mas nem sempre dar o melhor. E aqueles que sempre dão o que de melhor podem dar descobrem que o que deram não é o melhor que queriam receber dele. São dias de contradição. De olhares famintos e corpos saciados. De garganta seca e riso solto. São os últimos dias. Dias que não voltarão mais, como os outros que já se foram. No entanto, seriam dias iguais se não fossem marcados pelo calendário. Invenção humana para domar o tempo indomável.
Lavras, em um anoitecer triste e chuvoso. O4 de dezembro de 2009
Os últimos dias do ano chegaram. São dias chuvosos e de muito calor. Há um sentido de pressa nas pessoas, como se quisessem que os dias passassem ainda mais rápidos do que já passam. Como se quisessem que eles se afastassem velozmente para terem a oportunidade de recomeçar. É sempre assim, fazemos planos para o próximo ano, mas quando os meses vão passando e compreendemos que as coisas não estão indo como o sonhado, desejamos ardentemente que ele se torne passado para preparar o caminho de um novo futuro.
No entanto, cada dia que passa é menos um dia. Desde que nascemos, desde que somos concebidos, a vida caminha para o fim. É uma estrada sem volta. Queiramos ou não só podemos caminhar um uma direção – em direção a morte. Por isso acho inexplicável essa ânsia que as pessoas têm para que o tempo passe cada vez mais rápido, marcando datas para iniciar algum processo. É sempre amanhã, sempre na segunda, o mês que vem, o ano. A hora deveria ser agora, sem adiamento. Mas é tão difícil aprender isso...
Não gosto do mês de dezembro. Não gosto dessa necessidade que sinto de auto avaliar-me, de passar em revista a minha vida. Fica sempre um gosto de incompletude. Uma sensação de que eu podia ter feito mais do que fiz, ter sido mais do que sou. E menos ainda gosto à medida que vou percebendo que o meu tempo está escoando como grãos de areia entre os dedos. As festas natalinas só me dão vontade de esconder-me debaixo da cama até que passem. Não, os meus natais nunca foram externamente ruins. Mas em meu íntimo nunca foram completos. Sempre falta alguma coisa, sempre falta alguém. Alguém que se foi para não mais voltar, alguém que poderia ter vindo e não veio. Alguém que certamente não virá mais em próximos natais e sua presença nada mais é do que a certeza de sua breve ausência.
São dias para presentear, os últimos dias. Presentes, na maioria das vezes, inadequados. Mesmo assim aqueles que não têm a quem presentear, nem têm alguém para presenteá-lo, sofrem. É tempo de comparação. De exigências. Todos querem receber o melhor, mas nem sempre dar o melhor. E aqueles que sempre dão o que de melhor podem dar descobrem que o que deram não é o melhor que queriam receber dele. São dias de contradição. De olhares famintos e corpos saciados. De garganta seca e riso solto. São os últimos dias. Dias que não voltarão mais, como os outros que já se foram. No entanto, seriam dias iguais se não fossem marcados pelo calendário. Invenção humana para domar o tempo indomável.
Lavras, em um anoitecer triste e chuvoso. O4 de dezembro de 2009