In memória
Eu estava sonhando com a noite em que a rose do livro vampire academy iria finalmente perder a virgindade com o dimitri quando minha mãe me acordou.
Olhei para o celular e era apenas 9:00 da manhã. Eu estava aturdida, cheia de sono e dor de cabeça. Li e respondi uma mensagem da Juh, levantei da cama, discuti com minha mãe, coisa básica e corriqueira aqui em casa. Tomei um copo de suco de beterraba com cenoura, me troquei e fui para o shopping entregar currículos.
Eu já havia entregue alguns currículos quando meu celular tocou e eu soube da bomba.
Minha bisavó de quase 90 anos havia falecido á alguns minutos.
Tentei acalmar minha mãe e decidi ir ao asilo onde minha bisavó morava há 1 ano e 2 meses. Enquanto percorria os 4 quarteirões que me separavam do asilo, eu fui lembrando de várias situações em que estive com minha bisavó.
Uma das primeiras lembranças que tenho dela, ocorreram nos poucos passeios que eu fazia até sua casa. Era uma casinha de fundo, pequena e simples. O jardim era enorme e eu e uma prima sempre escondíamos as facas dela pelo quintal e ela ficava procurando as facas conosco. Lembro que ela sempre teve um cachorrão que latia muito alto, mas que não fazia nada. Nós passávamos por ele e ele nem se mexia.
Minha avó nunca foi muito santa, aos 80 anos ela tinha um namorado, o seu Sebastião. Ele era bem velhinho também. Minhas tias não aprovavam o namoro e pediram para as filhas dele levarem ele para longe. Elas o levaram e minha avó começou a desistir de viver.
Ela teve mal de Alzheimer e se esquecia de tudo. Algumas crises começaram e minha tia a levou parar morar com ela. Todos sabem que ela maltratava minha bisa e um dia ela jogou minha avó aqui em casa. Sim, ela a jogou aqui, chegou de carro, abriu o portão, colocou a bisa aqui dentro e foi embora. Sumiu.
A luta foi grande, durante 3 anos nós passamos por muita coisa juntos. Várias vezes eu vi minha avó andando pelada no meio do quintal. Vi suas crises e alucinações em que ela jurava ter tido um filho e se deitava no quintal gritando o nome de um dos 13 filhos dela.
Tinha dias que ela contava uma história do passado dela, bem, ela contava a história 8,9 vezes num só dia. Eu ficava falando para minha mãe “mãe, eu já ouvi esse filme uma vez, duas, três... nove vezes”
Quando cheguei ao asilo, fui ao quarto numero 8, entrei e vi eminhas tias chorando, meus primos chorando e chorei junto. Quase desmaiei, mas me mantive firme. Sei que ela está com Deus e ela não sofreu ao morrer.
As enfermeiras haviam dado banho nela, a colocaram na cama e quando foram trocar ela, ela suspirou 3 vezes e se foi. O rosto dela estava tranqüilo, sereno. Uma paz que acho que ela não conheceu enquanto vivia.
Esse Texto é um memorial á minha bisavó, que teve 15 filhos e quase 50 netos, vários bisnetos e acho que 3 tetranetos.
Anunciata Maria Espírito Vaz. Onde quer que vá sempre te amarei.
Daniela Serrano
08/10/09