EU [NÃO] DISSE ISSO?! [EC]
Outro dia eu escrevi um texto dizendo que queria um mundo feminino. Fui cravejada de e-mail’s chamando-me de feminista ultrapassada, extremista, etc. etc. depois, bem mais recentemente, perguntei se consciência tinha cor e recebi alguns e-mail’s perguntando se eu havia esquecido minhas raízes.
O que há em comum entre estes textos aparentemente tão diferentes? A reação de alguns leitores, minoria é verdade, aos meus argumentos. Nunca almejei a unanimidade ou aceitação passiva de meus pensamentos, mas o que me impressiona é a capacidade que algumas pessoas possuem de colocar palavras e pensamentos onde eles não existem.
Quando disse que queria um mundo feminino, no texto inteiro referi-me aos sentimentos como razão, solidariedade, fraternidade, liberdade, etc. No texto sobre a cor da consciência não me coloquei contra a luta da categoria ou expressei qualquer pré-conceito. O que questionei e continuo questionando é a fragmentação do homem em categorias. As lutas isoladas. As leis em defesa desta ou daquela categoria.
Se cada ser humano fosse visto em sua totalidade independente de sua cor, religião, orientação sexual, classe social, condição física ou idade não seria necessário criar leis para tentar corrigir distorções que só a educação consciente e responsável é capaz de transformar. Uma educação pela e para paz. Uma educação capaz de mostrar ao homem que ele foi criado para habitar a terra, mas pode fazer isso sem escravizar o outro, sem cair nos abismos criados pelo egoísmo e preconceito.
Não me coloco contra as lutas, as tentativas de correção destas distorções, mas acredito que antes de valorizarmos as categorias, isoladamente, deveríamos lutar em defesa do homem. De seu direito a vida em plenitude. Do respeito a pessoa com todo seu potencial e/ou limitações. Ninguém é igual a ninguém, mas as diferenças não nos torna melhores ou piores, apenas diferentes. Tratarda mesma forma pessoas com diferentes condições é distorcer a igualdade. Precisamos respeitar os limites de cada um e oferecer condições especiais a quem delas necessitar, mas sem tornar isso um princípio de desvalorização. A lebre e a tartaruga podem percorrer a mesma distância, o que vai variar é o tempo de cada uma e as condições dadas.
Negar a identidade de um povo, castrar sonhos, ideais e/ou talentos é tão criminoso quanto violentar o sagrado direito a vida. Agora imaginar que estes dois textos pudessem ser motivo para que eu fosse bombardeada com mensagens me chamando de “intelectual (o intelectual eu gostei, mesmo sabendo que não sou, mas como sei que não sou todo o resto) em defesa dos direitos da elite”, “feminista ultrapassada” “alienada”, “preconceituosa” e ser questionada sobre minhas origens, ou pior, receber parabéns por criticar “estes neguinhos” metidos a entendidos, confesso que por esta eu não esperava.
Juro que fiquei surpresa, e, mais uma vez constatei, ESCREVER É PERIGOSO. Talvez eu devesse pedir desculpas a quem se sentiu ofendido por minhas palavras. A quem entendeu que não reconheço o mundo como espaço do SER HUMANO de todos os CREDOS, RAÇA, SEXO, CONDIÇÃO SOCIAL, FÍSICA E PSICOLÓGICA. Que fique claro, eu reconheço como legítima todas as lutas, de todas as categorias, o que me angustia é que estas lutas assumam uma característica separatista. Que divida, em vez de somar. Que seja fragmentada. Posso estar errada, mas daí a ser acusada de ser contra esta ou aquela categoria há uma enorme diferença. Os encaminhamentos de minhas idéias podem até serem fracos, mal fundamentados, mas preconceituosos, isso eu posso garantir que não são.
Mas prefiro dizer que estou aberta ao diálogo e posso mudar de opinião, se seus argumentos provarem ser melhores que os meus. Enquanto isso, continuarei lutando por um mundo melhor para TODOS. Um mundo sem rótulos. Onde o respeito seja ao ser HUMANO. Onde a consciência seja universal. E TODOS possam viver em harmonia. Um mundo onde o homem encontre o verdadeiro caminho da felicidade, onde ele se redescubra construtor de um mundo de justiça, onde a verdade não se confunda com a mentira e o amor seja sempre mais importante que os bens materiais.
Um mundo onde o homem seja capaz de perceber que a cor da pele não define o caráter, que não é a religião que nos salva, que pertencer a este ou aquele partido político pode não dizer muito sobre cada um de nós, que ser homem ou mulher não nos torna superiores ou inferiores. Que somos nós os responsáveis pelas cores que esboçarão uma aquarela de paz ou uma paisagem de guerra, que misturamos as tintas que dão os tons de nossa realidade e nossas ilusões... Um mundo onde sejamos, apenas, HUMANOS responsáveis por nossas escolhas.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Por Esta Eu Não Esperava. Saiba mais, conheça os outros textos:
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