FILHOS SEM LIMITES, PAIS COM PALPITES
Por CArlos Sena
Por CArlos Sena
Cada pessoa se estabelece dentro dos seus próprios parâmetros: define o que quer fazer, que tipo de trabalho e profissão deseja seguir, que cidade deseja morar, que planos imagina concretizar, quantos filhos deseja ter no casamento e assim por diante. O “QUERER” se torna imperativo no viés da motivação humana, pois a grande maioria das suas ações depende dos “motivos”, daí a motivação.
O princípio da existência social reside na família e isto ninguém pode duvidar. Mesmo na família nuclear como a moderna e mais ainda na patriarcal, como no nosso passado. Isto nos pode reforçar questões evidentes que a sociedade está refletindo equivocadamente, pois desconectada da uma crítica mais sistemática, não tem levado em conta alguns elementos importantes como a família na sua consubstanciação sociológica.
A sociedade moderna tem sido também motivadora de conceitos fundamentados em valores imediatistas, próprios de uma sociedade de consumo em que os citados valores têm que ser (?) “deglutidos” e logo substituídos por outros. A grande maioria dos nossos jovens se acha moderna pela concepção de que seus pais não o são; seus professores também não, apesar de poderem ser, mas não necessariamente.
A lógica do capitalismo, para os mais avisados, para os mais vividos, não leva muita vantagem. Da mesma forma para o consumo exagerado, tão mais envolvente nos mais jovens, para os quais geralmente são direcionadas as maiores fatias de propaganda e publicidade. Vender passa a ser definitivo e os apelos afetivos e estéticos logo ganham a simpatia da maior parte dos jovens que, não raro, começam a “invadir” os bolsos dos pais.
Essa panorâmica breve dos consumistas por excelência, encontra terreno fértil, principalmente nas famílias de classe média e alta. Imagino que na classe média isto se acentue em função de diversos fatores, inclusive porque os novos ricos advêm dessa classe que, com as devidas exceções, não desenvolvem algum tipo de crítica racional sobre os valores sólidos como os morais e os transitórios como a moda, etc..
Nota-se com freqüência que algumas famílias são muito vulneráveis aos apelos afetivo-chantagistas dos filhos tipo: “tenho que dar aos meus filhos tudo que não tive quando na idade deles”. Afirmativa equivocada se entendermos que cada geração tem seus mistérios, sua dor, sua alegria, seu papel social em consonância com o tempo e as circunstâncias. Talvez esteja nesta configuração grande parte da falta dos tão propalados LIMITES que a nova geração parece não ter. Dificilmente esta assertiva se contradita em grande escala, considerando que os efeitos da falta de limite estão despontando no viés das drogas e da marginalidade.
É comuníssimo encontrar os estudantes com sérias dificuldades em falar e escrever o nosso idioma. Geralmente dominam os computadores, vivem sempre no ORKUT, MSN, sites diversos, bate-papos. Quando vão fazer algum tipo de estágio ou mesmo para buscar o primeiro emprego, não temos dificuldades em identificar o fosso intelectual da grande maioria. Elaboram mal, escrevem mal, contextualizam pessimamente! Os pais logo identificam que a escola é a grande culpada de tudo. Ela até tem sua culpa porque de certa maneira apóia certas atitudes e até incentiva, mas não seria, no nosso entendimento, a vilã.
O princípio básico está no pai e na mãe. Não necessariamente na família, mas no pai e na mãe, pois muitos vivem na mesma casa nesses papéis, mas não se constituem família enquanto princípio afetivo e de formação de sujeitos. Colaboram mais com a formação de objetos e, nessa lógica, as novas gerações parecem querer fincar suas histórias de vida. Assim, fica fácil entender o porquê de tantos jovens e até adultos desencontrados, perdidos entre o que desejam ser e fazer e o que disseram que eles deveriam ser e fazer. Temo que algum pai desavisado pense que seu filho é um craque no futebol, quando ele, de fato, é usuário de craque nos campos das escolas e faculdades.
Retomamos o conceito sociológico de família por tudo que ele pode nos levar a compreender grande parte dos comportamentos sociais praticados em nome da modernidade.
É que a chamada modernidade é igualmente conceitual e está ligado diretamente a valores. Se para muitos passar a noite tomando cerveja, bebendo, fumando, ficando e outros gerúndios, é ser divertimento e como tal, moderno, estamos fora. O conceito de modernidade seria o da saúde, pois como ser moderno pondo a integridade física e mental em risco? Esse valor fundamental é estruturado no seio familiar, desde que haja pai e mãe no formato de família. Dando limites aos filhos, determinando o que eles devem fazer e não tendo medo das caras feias deles e dos coleguinhas. Abolindo o citado jargão do “tenho que dar a eles tudo que não tive”... Enfim, pensar de fato na felicidade dos filhos.
Imagino que quando os pais levam os filhos para se vacinarem que eles choram pra valer, logo dizem pra todo mundo ouvir: “é para o bem deles. Choram agora para sorrir mais tarde”...
A lógica é a mesma na área comportamental. Dar limites funciona na mesma construção, apenas com o diferencial de que uma afeta o corpo físico e a outra, a mente.
Não se pode ignorar que há uma dificuldade operante nas relações sociais mais gerais. O diálogo é minguado entre as pessoas; os rancores ficam muitos no baú para um dia serem “vomitados” sobre os outros. Fala-se pouco do amor e dos sentimentos positivos e isto geralmente deixa os relacionamentos fragilizados ao ponto de morrerem lentamente.
Pode-se até não ter competência para o exercício da plenitude familiar em sua versão funcional e prática, independente da forma tradicional ou nuclear da família. O que fica difícil é compreender a inércia disto em nome de ser pai ou mãe moderno, projetando nos filhos todo um fosso de más resoluções de problemas diversos.
Felizmente que a sociedade, nos casos de falta de limites, dispõe de instituições como a polícia para suprir a ausência de educação por parte das famílias. Sabemos que muitos são os que, em nome do amor justificam seus erros. Mas quando se trata da vida de pessoas que não pediram pra nascer e, embora sabendo de todos os riscos, muitos pais acreditam que só acontecem desacertos com os filhos dos outros é, no mínimo, ingenuidade.
Jô Soares imortalizou no seu programa de humor, um personagem emblemático que pode ilustrar um pouco estas questões: o pai descobriu que o filho era gay e se sai com o bordão "ONDE FOI QUE EU ERREI"? Neste contexto sobre limites, pode-se muito bem repetir o citado bordão, com o diferencial de que na vida real se pode ser feliz com qualquer tipo de prática sexual pouco ortodoxa (não as defendo como opção), mas não podemos garantir que o mesmo se dê com pessoas que estão no mundo das drogas e da marginalidade.
Por outro lado, não podemos condenar ninguém que escolher o caminho errado para seguir. Porque seria apostar no ser humano totalmente influenciável ignorando que todos têm livre arbítrio e, deste modo, fazemos opções, mas temos que assumir as naturais conseqüências boas e ruins.
Finalizamos assegurando que a grande maioria dos filhos que se encontram na marginalidade, teve pais "frouxos" que sempre procuraram "dar tudo que não puderam ter quando crianças foram"; genitores que nunca demarcaram hora dos meninos chegarem a casa; nunca procuraram saber sobre os colegas de balada; nunca passaram noções de trabalho digno; de vida dura, de necessidade de ser decente com os outros e sempre praticar o bem; dificilmente mandaram desligar a TV, estudar, lavar os pratos e o banheiro, ir ao supermercado, a padaria, ao banco pagar uma conta de luz, etc., e foram atendidos. Ninguém ignora que todos os pais querem a felicidade dos filhos. Mas há, na grande maioria, uma inversão de conceitos: confundem formação com informação; autoritarismo com autoridade; limite com palpite. Ainda têm a pachorra (alguns) de quererem conduzir a família com democracia, como se ela fosse um estado politicamente estruturado. Família é núcleo de amor e COMPARTILHAMENTO de responsabilidades e afeto em que os papéis sociais não podem ser misturados: pai é pai, mãe é mãe e filho é filho. "Paca é paca e vaca é vaca"...
Carlos Sena - csena51@hotmail.com
O princípio da existência social reside na família e isto ninguém pode duvidar. Mesmo na família nuclear como a moderna e mais ainda na patriarcal, como no nosso passado. Isto nos pode reforçar questões evidentes que a sociedade está refletindo equivocadamente, pois desconectada da uma crítica mais sistemática, não tem levado em conta alguns elementos importantes como a família na sua consubstanciação sociológica.
A sociedade moderna tem sido também motivadora de conceitos fundamentados em valores imediatistas, próprios de uma sociedade de consumo em que os citados valores têm que ser (?) “deglutidos” e logo substituídos por outros. A grande maioria dos nossos jovens se acha moderna pela concepção de que seus pais não o são; seus professores também não, apesar de poderem ser, mas não necessariamente.
A lógica do capitalismo, para os mais avisados, para os mais vividos, não leva muita vantagem. Da mesma forma para o consumo exagerado, tão mais envolvente nos mais jovens, para os quais geralmente são direcionadas as maiores fatias de propaganda e publicidade. Vender passa a ser definitivo e os apelos afetivos e estéticos logo ganham a simpatia da maior parte dos jovens que, não raro, começam a “invadir” os bolsos dos pais.
Essa panorâmica breve dos consumistas por excelência, encontra terreno fértil, principalmente nas famílias de classe média e alta. Imagino que na classe média isto se acentue em função de diversos fatores, inclusive porque os novos ricos advêm dessa classe que, com as devidas exceções, não desenvolvem algum tipo de crítica racional sobre os valores sólidos como os morais e os transitórios como a moda, etc..
Nota-se com freqüência que algumas famílias são muito vulneráveis aos apelos afetivo-chantagistas dos filhos tipo: “tenho que dar aos meus filhos tudo que não tive quando na idade deles”. Afirmativa equivocada se entendermos que cada geração tem seus mistérios, sua dor, sua alegria, seu papel social em consonância com o tempo e as circunstâncias. Talvez esteja nesta configuração grande parte da falta dos tão propalados LIMITES que a nova geração parece não ter. Dificilmente esta assertiva se contradita em grande escala, considerando que os efeitos da falta de limite estão despontando no viés das drogas e da marginalidade.
É comuníssimo encontrar os estudantes com sérias dificuldades em falar e escrever o nosso idioma. Geralmente dominam os computadores, vivem sempre no ORKUT, MSN, sites diversos, bate-papos. Quando vão fazer algum tipo de estágio ou mesmo para buscar o primeiro emprego, não temos dificuldades em identificar o fosso intelectual da grande maioria. Elaboram mal, escrevem mal, contextualizam pessimamente! Os pais logo identificam que a escola é a grande culpada de tudo. Ela até tem sua culpa porque de certa maneira apóia certas atitudes e até incentiva, mas não seria, no nosso entendimento, a vilã.
O princípio básico está no pai e na mãe. Não necessariamente na família, mas no pai e na mãe, pois muitos vivem na mesma casa nesses papéis, mas não se constituem família enquanto princípio afetivo e de formação de sujeitos. Colaboram mais com a formação de objetos e, nessa lógica, as novas gerações parecem querer fincar suas histórias de vida. Assim, fica fácil entender o porquê de tantos jovens e até adultos desencontrados, perdidos entre o que desejam ser e fazer e o que disseram que eles deveriam ser e fazer. Temo que algum pai desavisado pense que seu filho é um craque no futebol, quando ele, de fato, é usuário de craque nos campos das escolas e faculdades.
Retomamos o conceito sociológico de família por tudo que ele pode nos levar a compreender grande parte dos comportamentos sociais praticados em nome da modernidade.
É que a chamada modernidade é igualmente conceitual e está ligado diretamente a valores. Se para muitos passar a noite tomando cerveja, bebendo, fumando, ficando e outros gerúndios, é ser divertimento e como tal, moderno, estamos fora. O conceito de modernidade seria o da saúde, pois como ser moderno pondo a integridade física e mental em risco? Esse valor fundamental é estruturado no seio familiar, desde que haja pai e mãe no formato de família. Dando limites aos filhos, determinando o que eles devem fazer e não tendo medo das caras feias deles e dos coleguinhas. Abolindo o citado jargão do “tenho que dar a eles tudo que não tive”... Enfim, pensar de fato na felicidade dos filhos.
Imagino que quando os pais levam os filhos para se vacinarem que eles choram pra valer, logo dizem pra todo mundo ouvir: “é para o bem deles. Choram agora para sorrir mais tarde”...
A lógica é a mesma na área comportamental. Dar limites funciona na mesma construção, apenas com o diferencial de que uma afeta o corpo físico e a outra, a mente.
Não se pode ignorar que há uma dificuldade operante nas relações sociais mais gerais. O diálogo é minguado entre as pessoas; os rancores ficam muitos no baú para um dia serem “vomitados” sobre os outros. Fala-se pouco do amor e dos sentimentos positivos e isto geralmente deixa os relacionamentos fragilizados ao ponto de morrerem lentamente.
Pode-se até não ter competência para o exercício da plenitude familiar em sua versão funcional e prática, independente da forma tradicional ou nuclear da família. O que fica difícil é compreender a inércia disto em nome de ser pai ou mãe moderno, projetando nos filhos todo um fosso de más resoluções de problemas diversos.
Felizmente que a sociedade, nos casos de falta de limites, dispõe de instituições como a polícia para suprir a ausência de educação por parte das famílias. Sabemos que muitos são os que, em nome do amor justificam seus erros. Mas quando se trata da vida de pessoas que não pediram pra nascer e, embora sabendo de todos os riscos, muitos pais acreditam que só acontecem desacertos com os filhos dos outros é, no mínimo, ingenuidade.
Jô Soares imortalizou no seu programa de humor, um personagem emblemático que pode ilustrar um pouco estas questões: o pai descobriu que o filho era gay e se sai com o bordão "ONDE FOI QUE EU ERREI"? Neste contexto sobre limites, pode-se muito bem repetir o citado bordão, com o diferencial de que na vida real se pode ser feliz com qualquer tipo de prática sexual pouco ortodoxa (não as defendo como opção), mas não podemos garantir que o mesmo se dê com pessoas que estão no mundo das drogas e da marginalidade.
Por outro lado, não podemos condenar ninguém que escolher o caminho errado para seguir. Porque seria apostar no ser humano totalmente influenciável ignorando que todos têm livre arbítrio e, deste modo, fazemos opções, mas temos que assumir as naturais conseqüências boas e ruins.
Finalizamos assegurando que a grande maioria dos filhos que se encontram na marginalidade, teve pais "frouxos" que sempre procuraram "dar tudo que não puderam ter quando crianças foram"; genitores que nunca demarcaram hora dos meninos chegarem a casa; nunca procuraram saber sobre os colegas de balada; nunca passaram noções de trabalho digno; de vida dura, de necessidade de ser decente com os outros e sempre praticar o bem; dificilmente mandaram desligar a TV, estudar, lavar os pratos e o banheiro, ir ao supermercado, a padaria, ao banco pagar uma conta de luz, etc., e foram atendidos. Ninguém ignora que todos os pais querem a felicidade dos filhos. Mas há, na grande maioria, uma inversão de conceitos: confundem formação com informação; autoritarismo com autoridade; limite com palpite. Ainda têm a pachorra (alguns) de quererem conduzir a família com democracia, como se ela fosse um estado politicamente estruturado. Família é núcleo de amor e COMPARTILHAMENTO de responsabilidades e afeto em que os papéis sociais não podem ser misturados: pai é pai, mãe é mãe e filho é filho. "Paca é paca e vaca é vaca"...
Carlos Sena - csena51@hotmail.com