Qual o gosto de seus dedos?
 
Estou sempre com um livro na mão, mas nem todo o livro que leio merece uma resenha. Mas é raro ler um livro que não me faça pensar sobre um ou outro assunto que nada tem a ver diretamente com o livro.
Acabei de ler um livro de Lawrence Block, Punhalada no Escuro, que de cara todos vão perceber que é um livro policial. Já li outros livros desse autor e certamente já me esqueci completamente deles. Não lembraria nem do nome do protagonista se não tivesse acabado de ler esse livro agora. Não porque seja um livro ruim, não é, mas tem coisas que não há necessidade de guardar na memória para toda vida. Mas o que me chamou a atenção nesse livro é que, o protagonista, um ex-policial que abandonou a Polícia e a família (mulher e dois filhos) ao mesmo tempo tem um hábito extremamente curioso. Ele não é exatamente um detetive particular oficial. Mora em um hotel e vive de bicos. Diariamente (e noturnamente) faz a ronda dos bares e não se considera um alcoólatra. Ele presta favores a quem lhe pede, investiga o caso e recebe sempre um dinheiro razoável já que ele sempre tem sucesso. Então, ela pega esse dinheiro, paga as contas penduradas, manda uma grande parte para a ex-mulher e ...paga o dízimo. Ele paga o dízimo certinho, leva dez por cento do que ganha e coloca na caixa que existe para esse fim, nas Igrejas. Se bem me lembro ele sempre paga em uma Igreja Católica embora não siga nenhuma religião. Foi isso que me levou a pensar em um hábito que observo aqui em Lavras, MG. A Igreja principal da Paróquia de Santana fica em uma rua central muito bem localizada. Uma rua comercial. E, as pessoas que por ali transitam, católicos praticantes ou não, geralmente ao passar frente à Matriz  fazem o sinal da Cruz. Levam as mãos a testa, ao centro do peito, e posteriormente de um lado a outro formando uma cruz. Isso não seria nada de mais: é um sinal de respeito, um símbolo daquilo que crêem. O que eu não consigo atinar é porque, ao terminar o sinal da cruz levam a mão até a boca e a beijam. Sujos ou limpos, beijam os próprios dedos. Tudo mecanicamente. Alguns nem ao menos param de conversar.   Já perguntei para alguns, com os quais tenho liberdade e não se sentem criticados compreendendo a minha curiosidade, mas nenhum deles soube explicar porque faz isso. E realmente toda essa digressão foi para contar o que vi um dia desses. Um homem vinha subindo a rua, em minha direção. Eu estava nas proximidades da Igreja esperando a chuva passar. Então ele deu um grande espirro, levou dois dedos ao nariz (o polegar e o fura bolos) limpou o nariz com eles no momento exato em que passava frente à Igreja. Sabem o que aconteceu a seguir? Ele fez o sinal da cruz, com a mesma mão, à direita, é claro, e na hora de beijar a mão aproveitou para lamber os dedos.