Homens na cozinha
 
Eu não sabia que o dia cinco de novembro, dia em que meu pai morreu, era também o Dia Internacional do Homem na Cozinha. Mas minha professora de Inglês sabia. Ou inventou. O caso é que ela resolveu comemorar, obrigando os seus alunos homens a preparem um jantar para nós, as alunas e para as suas amadas. Bem ou mal, isso eu não posso dizer.

Pois é. Estudo Inglês. Na verdade, vou à aula. Não gosto de estudar, mas adoro ir à aula. É assim que aprendo. Um dia, acabo falando inglês. Se ela não me dispensar antes. A minha professora de inglês também é minha amiga. Temos um grupo de mulheres, fazemos algumas coisas juntas. Ela tem uma sala em sua casa onde dá as suas aulas. São individuais e a casa dela é um verdadeiro entra e sai. Quando um está chegando o outro está saindo.Eu conheço todos os alunos dela. De vista. Estou aprendendo os nomes agora. É que a gente se vê só nesses encontros esporádicos. Nem tão esporádicos assim. Ela tem mania de workshops. Temos que preparar um tema e passá-lo para a turma. Claro que em inglês. Estou correndo dela feito o diabo da cruz.

Bem, eu não estava em um bom dia. Ou melhor, em uma boa noite. Fiquei a maior parte do tempo calada. Tanto em inglês como em português. A noite estava linda e o seu jardim a moda antiga, esplendoroso. Enquanto os homens cozinhavam as mulheres arrumavam as mesas. Uma delas, com uma deliciosa e pequena voz, tocava violão e cantava músicas nacionais, do jeito que eu gosto. Um fogão de lenha crepitava esquentando ainda mais a noite por isso estarmos ao ar livre foi bom demais. Os cozinheiros se dividiram em três ambientes para preparar a refeição que depois de pronta foi colocada no fogão de lenha para se manter aquecida. Menos as sobremesas, que se ali ficassem, derreteriam.

Mas, a esta altura os petiscos já haviam acabado: peixe frito. Eu odeio peixe e por isso estava ansiosa esperando os pratos principais. Mas que nada, antes a nossa professora fez os cozinheiros explicarem em inglês porque se sujeitaram a cozinhar naquela noite. E ali, todos de avental, enfileirados em ordem alfabética, foram colocando os seus motivos, que eram os mesmos – de uma forma ou de outra, agradar a mulher amada. A nossa professora é uma romântica incorrigível e uma mulher tenaz: sempre consegue o que quer. Finalmente, depois de muitos beijos na boca e muita emoção, o jantar foi servido e eu não perdi tempo.

A comida estava ótima: além do peixe empanado e frito que eu não comi, havia arroz branco, tutu batizado (além do feijão e farinha, um monte de coisas), lasanha, couve mineira, e casadinhos de beringela, que nós chamamos simplesmente de bolinhos de carne. Se eu tivesse que distribuir notas, a esse daria a máxima. Quem fez foi o Paulo, filho da mestra. As sobremesas também deliciosas, tanto a musse de maracujá com chocolate como a divina iguaria feita pelo Flávio: uma calda de chocolate preparada com ingredientes não muito usuais em sobremesas , como gengibre, pimenta, café (ele é Doutor em Café) além de pedaços de morango. Servidas em taças, com sorvete e um morango inteirinho.

Foi uma noite boa e acho que depois de comer eu comecei a me sentir melhor e voltei para casa mais bem humorada.