LIÇÃO DE VIDA
LIÇÃO DE VIDA
Leopoldino, caboclo rude, roceiro, analfabeto de corpo e alma.
Morador no Buriti do Jorge no distrito do Engenho do Ribeiro, beirinha da estrada que ligava Bom Despacha a Martinho Campos. Estada longa aberta à base de machado e facão. Passando pelas encostas, matas e capoeiras onde o acesso era mais accessível. Isso nas remotas épocas do século passado.
Leopoldino saiu de madrugada, no primeiro cantar dos galos, teria que percorrer mais de cinco léguas até o arraial de Bom Despacho do Picão, onde efetuava as compras dos indispensáveis gêneros de primeira necessidade para o consumo domestico.
Feito o trajeto após cumprir seu objetivo, o caboclo sentiu a sorte bater-lhe as portas. Já de mala pronta viu entrar na venda, esnobando panca de coronel, seu Bernardinho, fazendeiro abastado um dos pioneiros a possuir carro automotor, coisa inédita, jóia rara naqueles tempos. Leopoldino apesar do respeito pelo superior arriscou uma aventura perguntando: - Está voltando pra fazenda seu Bernardinho? -Estou sim... Mas estou com pressa!
-Quem sabe me dá uma garupa?--Estou com pressa! –Mas eu estou pronto aqui minha mala! –Não... Estou com pressa! – Entrando em seu fordinho, o fazendeiro, largou poeira nas fuças do caboclo. Com sol já vertendo ao horizonte ele embarcou no rastro do automóvel e pé na estrada, vez por outra mudava de ombro, sua mala de duas partes tecida de algodão tingida do índigo com listras brancas.
Aconteceu que chegando ao pântano; Bernardinho deparou-se com um problema. A longa ponte de sua travessia, era composta de três fileiras de esteios com pesados champrões de madeiras. Eis que, um champrão havia escapado e empinado sobre as vigas. O fazendeiro tentou de todas as formas recoloca-lo, faltava talvez à mão de uma simples criança. Mas por ali não passava vivalma alguma. Habitante não havia, sua única alternativa seria esperar o surgimento de alguém.
Quando o sol já raspando o horizonte preparava seu acaso. Chega ofegante o matuto Leopoldino! Irradiando felicidade Bernardinho exclama: - oh que maravilha você veio do céu! ... Não... Vim da vila a pé... E estou com pressa!
-Mas você não está indo pro Engenho... Eu te levo! – estou indo sim... Mas estou com pressa... Estou com pressa!
Pulando sobre o buraco da ponte o caboclo se mandou. Lá pelas vinte horas, em plena escuridão. Enquanto descansava os pés na orla da bacia aguardando o jantar que esposa lhe preparava, o fordinho de seu algoz passou roncando na estrada a frente de sua casa. Leopoldino soltou um berro de estou com pressa tão violento que até hoje seu eco ainda viaja pelo espaço sideral.