Eu Vou Ficar Pra Titio?

É amigos, chega um momento na vida de um homem em que ele percebe o que o futuro lhe reserva. E o que eu vi, acreditem, não é nada animador.

Por quê?

Bem, algumas coisinhas que eu tenho visto. Primeiro de tudo, eu sou exigente demais. O que é um crime, visto que eu não tenho "cacife" o suficiente para poder escolher. Um cara como eu, deveria ficar com o que de melhor lhe aparecesse, ou talvez até com qualquer coisa que lhe fosse oferecida e dar-se por satisfeito.

Mas eu sou diferente, fico querendo escolher e complicar tudo. Querer ser diferente é complicado. Nós, os menos favorecidos em beleza, por assim dizer, deveriamos nos saciar com o que nos fosse apresentado. O problema é que eu invento regras bobas para as minhas companhias. Do tipo: "tem que gostar do que eu gosto", "tem que ser desligada das coisas materiais". Poxa, soa até como um desafio proposto por mim mesmo. Uma vontade de complicar uma tarefa já desafiadora o bastante. Mas tudo bem, suponho que estas "condições" não sejam lá tão difíceis de se completar. Uma garota que queira, poderá, pelo menos no começo, superar essas dificuldades.

Porém é bem neste ponto que as coisas se complicam mais ainda: Uma garota que queira.

Cada vez mais tenho percebido como é difícil uma garota se interessar por mim. Talvez não seja só por mim. Provavelmente o mercado em si esteja concorrido demais. A lei de oferta e de procura está atuando amplamente neste seguimento. Muitos caras bons estão no mercado. Para um "produto meia-boca" como eu, fica complicado conseguir uma compradora. E eu ainda venho com muitos defeitos de fabricação. Nem vou comentar a parte física, por que baseando-se só nesta, eu já estaria condenado ao ferro velho. Mas como eu ia dizendo: preconceituoso.

Eu sou preconceituoso demais. Preciso de só um vislumbre para rotular as pessoas. E sempre com rótulos terríveis, do tipo "piriguete", "cabeça vazia" e coisas do gênero. Quantas garotas legais eu provavelmente já condenei à normalidade com o meu preconceito? Só Deus sabe...

Outra coisa: eu sou uma péssima companhia para programas. Sério, eu detesto qualquer tipo de programa. Festa? Passo longe. Tenho pânico de aglomerações e a simples ideia de beber já me assusta. Pensar em libertar os meus insintos e perder o controle sobre o meu corpo não me é agradável. Logo, qualquer programa deste tipo já está fora de cogitação.

Cinema seria legal... Mas poucas são as garotas que curtem a ideia de ir ao cinema de ÔNIBUS! Ah sim, o fato de não ter dinheiro eu nem tinha mencionado, não é?

Isto, com plena certeza, jogou as minhas chances de desencalhar lá para baixo.

Mas, adiante: dependente. Como as minhas relações são ligeiramente resumidas, eu normalmente acabo por exigir demais de qualquer pessoa que pareça se interessar. Coisas como desabafar ao jardinheiro ou contar segredos ao cobrador do ônibus, por exemplo. Carência é um problema sério, jovens. E para as garotas, carência soa como insegurança. E nenhuma rapariga quer um cara inseguro. Como diz aquela música, elas precisam de alguém que lhes dê segurança, senão elas dançam.

Bom, neste quesito eu também peco terrivelmente. Mas é que, realmente, eu sou inseguro. Bom, vocês que levam essas coisas pelo menos o mínimo a sério, devem saber o quão complexo é estar apaixonado. Você quer que tudo aconteça da melhor maneira possível, tem receio de que a pessoa perceba alguma falha, algum deslize. No fim das contas, seu medo acaba sobrepondo-se a qualquer outro sentimento e você acaba fazendo alguma bobagem.

Comigo sempre acontece. Quantas paixões com potencial para florescer em algo mais eu destruí por ser inseguro? E o pior é que eu não aprendi a lição, pois tornei a pecar no mesmo ponto.

E este é mais um dos motivos para me provar que vou acabar morrendo encalhado. Ser imaturo não conta pontos com as garotas. Por tanto, eu percebi que para algo mudar, eu vou ter que encontrar uma garota disposta a suportar todo o meu lado ruim. E sabendo que ganhará muito pouco em troca. Bom, eu, pelo menos, sou uma ótima companhia para comer sorvete e ir ao cinema de ônibus ou caminhando mesmo. Posso oferecer compreensão, o que não vale lá muito, não é? Se tivesse dinheiro, poderia pagar um analista e daria na mesma.

Também ofereço romantismo. Não extremista, como aquelas histórias de levar flores e chocolates em encontros. Mas eu faço o que posso, digo algumas coisas legais que me vêm a cabeça, em momentos propícios. Ou talvez não, vai saber...

Mas um mérito que talvez eu tenha, ou talvez já esteja antiquado para o atual momento do mundo, é que eu não tenho vergonha de dizer exatamente o que sinto. Quando eu não sinto nada, eu digo. O que me torna frio, não é? Mas quando eu sinto, eu costumo dizer também, o que me torna precipitado. Vai entender.

Uma dúvida que me assola. Afinal, o que há de errado em dizer que se está apaixonado quando se está apaixonado? Não é bem visto por todos, mas é algo que eu tenho a oferecer.

Tenho uma noção idiota de o que é importante. Porque, para mim, o importante é estar junto. Indiferente se for em um salão de lojas fechadas onde só se possa conversar, ou em uma fonte com uma bela visão. O importante é estar perto. Estar comendo sorvete de flocos até passar mal, estar rindo do outro por passar álcool gel em um pequeno corte na mão que se desconhecia até o momento. A simples presença alheia já é o suficiente. Só de se sentir aquele alguém por perto, já se fica feliz. Mesmo que sem o contato físico que se esperava. Mesmo em um primeiro encontro mais inocente do que se esperava... Mesmo que se tenha usado o bom senso... Só de poder ver o sorriso alheio, já se tem vontade de sorrir.

Para algumas pessoas, estas coisas simples soam asneiras. Imaginam que estas coisas sejam simples e sem sentido. Que não nos levam para frente, não acrescentem nada.

Mas bem, é o que eu tenho a oferecer. Esta simplicidade que ninguém mais quer.

E é por isso que eu vou morrer solteiro. Além do fato de não conseguir tirar certas coisas, eventos e pessoas da cabeça.

Complexo..

Enfim, se precisarem de um exemplo a não se seguir para se conseguir ser o garanhão da escola, venham falar com o Titio Rafael.

Num domingo à tarde, o mais monótono possível.