Viajando por ali e aqui


Vamos A MERIDA (10)
 
 
Saímos de Lisboa na manhã de oito de setembro, dia que seria o aniversário de meu primeiro irmão, caso ele estivesse vivo.  Pegamos o ônibus logo depois do café, rumo a Madri, com parada em Mérida. Na entrada do Hotel, o vendedor ambulante de todos os dias, com seus xales negros, fazia as últimas vendas para o nosso grupo. Os xales, lindos, mas eu não os comprei. Negros, levavam o meu pensamento até as viúvas de marinheiros e pescadores, que choravam os seus mortos engolidos pelos monstros do mar. O grupo, enorme, estava insatisfeito, em sua maioria. A razão era simples: nossas malas não estavam cabendo no bagageiro do ônibus. Quem reclamou estava certo e se não reclamei foi porque já havia gente demais para reclamar. Madalena, a guia, como sempre, pacientemente, tentava resolver os problemas. Conseguiu parcialmente. Uma van foi contratada para seguir com parte da bagagem. Em busca de nosso caminho partimos e meus olhos atentos deram adeus a Portugal que merece uma segunda visita. Atravessamos o Tejo sobre a ponte 25 de abril que liga suas duas margens: Lisboa – Almada. A Ponte sobre o Estuário do Tejo foi inaugurada em 1962 e recebeu o nome de Ponte Salazar, mas após a Revolução dos Cravos em 1974, foi rebatizada como 25 de abril, data que marca o fim de um longo período ditatorial. É uma belíssima ponte pênsil rodo ferroviária com cerca de 2.280 metros e responsável pelo desenvolvimento econômico da Região.
 
Bem, antes de chegar a Mérida, o ônibus quebrou, já em terras espanholas. Com isso foi impossível nos livrar dos trocadilhos com o nome da cidade. Afinal o grupo, a essa altura, perdendo a inibição dos primeiros dias, já se transformara em adolescentes em viagem. Tudo indica que foi descuido do José, o nosso motorista espanhol, durante toda a viagem. E, os entendidos em mecânica e coisas semelhantes, que eram quase todos os homens do grupo, garantiram : a pane fora causada por falta de combustível. De qualquer forma, logo que quebramos a Polícia chegou e ajudou a resolver o problema... buscando combustível. Embora tivesse havido essa falha técnica as viagens rodoviárias que fizemos pela Europa foram muito boas – o nível dos autopistas é excelente e o cansaço foi mínimo. Lembrei-me com orgulho que a Rodovia Fernão Dias (agora chamada de auto Pista) está no mesmo nível. E embora eu faça muitas ressalvas ao sistema capitalista como um todo, não posso negar que a Privatização desse caminho de São Paulo a Belo Horizonte só trouxe benefícios.
 
Chegamos a Mérida aproximadamente na Hora do almoço, graças ao atraso provocado pelos problemas técnicos no ônibus. José resolveu dar uma geral em nossa condução e fomos então, a pé, em busca do restaurante já reservado. Acontece que nos perdemos. Já estávamos quase chegando, como constatamos depois e Madalena resolveu voltar porque deduziu que estávamos no caminho errado. Andamos a ida, à volta e mais o dobro para chegarmos ao restaurante lotado. Foi quando descobrimos que era pertinho do primeiro caminho, praticamente na esquina. Foi bom porque pudemos observar a cidade em seus detalhes, mas chegamos famintos. Ovos fritos com batatas e lingüiça, arroz doce de sobremesa. Depois, pegamos o trenzinho turístico e fomos dar uma volta pela cidade, calma e tranqüila. Fiquei pensando: onde estão as pessoas nessa terça feira de intenso calor? Foi só depois que atinei, sou um tanto quanto lerda – quem não estava nos restaurantes almoçando, estava em casa fazendo a Siesta, esse hábito tão espanhol.
 
Mérida é uma linda cidade com aproximadamente 55 mil habitantes, capital da comunidade autônoma de Extremadura. O que realmente encanta nessa cidade bem cuidada é a sua longa História – foi fundada no ano 25 a. C e preserva ainda hoje seus monumentos e ruínas.  Merecia pelo menos um dia inteiro de visita, é um lugar onde também  vale à pena voltar.
 
Estivemos lá, na véspera de um jogo da seleção espanhola e pudemos apreciar a movimentação em torno dos preparativos para receber a seleção. Um grande mural com a fotografia da seleção, os jogadores em tamanho real,  serviu de fundo para os amantes brasileiros de futebol posarem junto aos craques espanhóis.
 
O caminho para Madri foi inesquecível. A visão de velhos castelos, povoados distantes, plantações de oliveiras e das incríveis mesetas é deslumbrante.  Desde a entrada em território espanhol que nos divertimos também procurando as silhuetas negras de touros, antigas propagandas de um frigorifico que se espalham pelas margens das rodovias e acabaram se transformando em patrimônio Histórico. Agora sem as propagandas que  proibidas,  deixam livre a visão da Espanha Rural. Todos os outdoors foram retirados. Só restaram os touros, objetos de nossa caçada visual.