Muitos e muitos anos depois...
Ela não estava conseguindo dormir. Ia viajar muito cedo, voltar a terra natal e perdeu o sono preocupada com a hora de pegar o avião. O marido ainda não havia deitado. Era um cientista e passava o tempo quase todo estudando. Quando ele entrou no quarto, devagarinho, para não acordá-la, ela disse:
-Você acabou com toda a minha criatividade. Eu era uma jovem alegre e bem humorada, vivia contando piadas, fazendo os outros rirem. Eu era a alma das festas. Desde aquela noite, logo no princípio do nosso casamento quando eu lhe contei uma piada você além de não rir, disse: que piada mais sem graça, de mau gosto, horrorosa. Nunca mais eu contei uma piada na vida. Fiquei traumatizada. Você podou meus dotes artísticos.
-Ah, é?
-Você se lembra da piada?
-Não.
-Eu me lembro. Quer que eu conte?
Ele, sem mostrar nenhum interesse, continuou se aprontando para deitar, mas disse que, se ela quisesse, podia contar. E ela contou. Então ele, virando para o lado, falou, já quase dormindo:
-Você se lembra da piada?
-Não.
-Eu me lembro. Quer que eu conte?
Ele, sem mostrar nenhum interesse, continuou se aprontando para deitar, mas disse que, se ela quisesse, podia contar. E ela contou. Então ele, virando para o lado, falou, já quase dormindo:
- Que piada mais sem graça, de mau gosto, horrorosa.
A piada? Ela me contou. Eu ri tanto que perdi o fôlego. Eu perco o fôlego quando rio. Sou alérgica a grandes risadas e logo começo a tossir. Mas sinceramente, não tenho coragem de reproduzir. É de mau gosto, apesar de engraçada. Horrorosa. Para contá-la só em uma reunião de mulheres, onde invocaremos a Deusa Baubo. São piadas assim que curam qualquer depressão. Bem sem vergonhas.
(Da série Pequenas Histórias Encantadas)