ENGENHEIRO DESTRUIU PARTE DA HISTÓRIA DE SAPÉ
Nem tanto pelo valor arquitetônico, mas sim pelo seu valor sentimental e histórico, não se justifica a demolição das velhas estações de trem, berços de cidades como Sapé, Mari, Guarabira e tantas outras na Paraíba e, de resto, no Nordeste, onde o trem foi a alavanca do progresso no começo do século passado. Permitir-se que o tempo apague o que de alguma forma marcou a história e o desenvolvimento de uma cidade como Sapé, por exemplo, só pode sair tal idéia da cabeça de pessoas sem nenhuma consciência histórica nem respeito pela comunidade.
Foi no final dos anos setenta que um engenheiro da antiga Rede Ferroviária Federal de nome Edmur Roque de Arruda resolveu demolir a estação de Sapé. O prefeito José Feliciano não se importou em autorizar a barbárie, permitindo botar abaixo aquele prédio de valor patrimonial-histórico inestimável. Hoje, a velha estação ferroviária de Sapé vive apenas na memória dos mais antigos moradores do lugar, ou nos registros fotográficos raríssimos, como a foto que publicamos no blog.
Na época, não sei se vozes discordantes lutaram para manter pelo menos a fachada do edifício, causando algum entrave à decisão irracional do engenheiro e do prefeito. Isso é de se pesquisar nos jornais daqueles tempos. A demolição deu lugar a um pátio onde foi construído quiosque para reunir a juventude em torno de bebida alcoólica e música de péssima qualidade. Nada de um projeto cultural que, pelo menos, amenizasse a destruição do prédio histórico. Na cidade de Mari, fui o último chefe da estação antes da privatização da Rede Ferroviária e consequente desativação do trecho Paraíba/Rio Grande do Norte. O estilo ditatorial do engenheiro Edmur já não pontificava na empresa. Aposentado, ele não conseguiu terminar a “obra” de demolir as outras estações do trecho. Lutei muito para que a estação de Mari fosse preservada. Por falta de políticas públicas de cultura, a ONG Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz assumiu o prédio, onde funciona uma biblioteca e uma rádio comunitária. Em vez de destruir o passado, a própria sociedade mariense cumpriu a função de dar respostas a esse problema, restaurando a dignidade do seu edifício histórico, marco da colonização do Município.
Portanto, no placar da eterna rivalidade entre Mari e Sapé, marcamos esse tento. Sapé condenou sua velha estação, reduzindo-a em um monte de entulhos, sem manifestações em contrário de pessoas e instituições. Aqui, dissemos não à demolição de nossa história, recuperando nossa estação e dando dignidade ao prédio com um projeto cultural tão útil à sociedade mariense.
Vale refletir sobre uma política de reabilitação e restauração das nossas estações ferroviárias que ainda se mantêm em pé, como no sítio Entroncamento, município de Espírito Santo. Em Itabaiana, nossa velha estação foi descaracterizada e vendida a particulares. É chover no molhado ressaltar a importância histórica daquele edifício para o município, uma referência em nossa cidade. Recentemente, soube que a Prefeitura está cuidando de tombar o prédio onde funciona a Maçonaria para abrigar um museu ou memorial de Sivuca. Boa iniciativa. No edifício funcionou uma escola que marcou época nos anos 20, onde estudou José Lins do Rego. Sua arquitetura demonstra o sentimento de grandeza e fausto de nossa elite naqueles recuados anos.