Porco-espinho
Encontrei um porco-espinho a atravessar a estrada. Freei o carro rapi e rispidamente e desci para ver o bichinho de perto. Ele me olhou, desconfiado, andou mais um pouco e parou na beira do asfalto, longe da pista e do perigo dos pneus. Mesmo assim, continuou a me fitar. Como eu voltava da feira, entrei no carro, peguei uma cenoura e joguei para ele. Comeu feliz da vida. Abri a porta do carro, do lado em que ele estava, e o convidei a entrar e passear. Nos tornamos, então, amigos.
No início, minha mulher estranhou o novo morador, como medo de ser espetada. Disse que a ela que ele ficaria no quintal, proibido de entrar em casa e muito menos sentar-se no sofá. Imagine se a gente confunde o bichinho com uma almofada? Com o tempo, percebi a utilidade de ter um porco-espinho em casa. É ótimo na hora de limpar as unhas, de coçar as costas, de espetar recados para minha mulher. Só não uso como palito de dente, afinal, ele é um porco.
Depois de muita amizade entre nós, descobri que o pontudo tem um sonho na vida. Ele me segredou que deseja, pelo menos uma noite na vida, ser travesseiro de político. Penetrar no cérebro desses seres ignóbeis para provar o quão ocos são. Estou a providenciar sua viagem a Brasília. Se cuidem cabeças-ocas.