MEU MELÃO, MEU MELOEIRO

MEU PÉ DE MELÃO

Você pode até nem acreditar, mas, eu estou olhando para um portão de ferro cheio de sinuosidades, representadas por inúmeros esses, com vontade de chorar. Você vai achar mais difícil ainda de acreditar se eu contar que meu lamento está ligado a um pé de melão. Aí você vai dizer: “tá doido”. Mas, muito mais louco você vai me achar quando eu disser que tive um pé de melão de estimação, nascido tal qual intruso, numa jardineira repleta de ixórias. Suas surpresas não pararão por aí, pois o tal pé de melão, enramou-se na grade do portão e ali florou.

Um dia bem cedo, como de costume, fui regar as ixórias e reguei-o também. Ao me virar, de relance, observei que um fruto do tamanho de uma laranja já se desenvolvia. A partir de então, foram semanas de observação e de um carinho e afeição crescentes, para não falar dos cuidados despendidos com aquele fruto solitário. Passei quase um mês a pedir que tal fato inusitado fosse fotografado para que pudesse comprovar a minha história, ou melhor, a história do meu melão despretensioso.

Em um sábado, pedi insistentemente que um dos meus filhos conseguisse uma máquina fotográfica para fazer o registro do melão pendurado no portão. Naquele dia, fiquei preocupado com a possibilidade da colheita do fruto ocorrer antes que fosse registrado para a posteridade. A minha preocupação vinha do fato de que o tal melão estava com, aproximadamente, 1,5 Kg de peso e, incrivelmente, pendurado em um ramo, cujas gavinhas se entrelaçavam nos esses do portão. O que parecia premunição terminou por acontecer. À noite, enquanto eu dormia, o melão despencou, graças a Deus sem que eu tivesse visto. Graças a Deus, também, não sofreu danos em sua estrutura e, no dia seguinte, informado do acontecido, pedi para vê-lo e apalpá-lo.

No meu último contato, sem querer acreditar no ocorrido, disse: ele ainda não está bom, só caiu por causa do peso. Apesar disso, antes do final do dia, lá estava eu saboreando-o, com ar saudoso, e eis que o seu doce sabor parecia me dizer; “não há de ser nada, aproveite e obrigado pelo zelo com que me tratou, enquanto estive pendurado no seu portão”.