Viajando por ali e aqui
 
Madalena (7)
 
Oh, Madalena o meu peito percebeu
que o mar é uma gota
comparado ao pranto meu, eu, eu, eu.
Fique certa quando o nosso
amor desperta,
logo o sol se desespera
e se esconde lá na serra.
Oh, Madalena, o que é meu não se divide
nem tão pouco se admite
quem do nosso amor duvide.
Até a lua se arrisca num palpite
que o nosso amor existe
forte ou fraco, alegre ou triste.
(Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza.)
 
Durante a minha viagem por parte da Europa essa foi a música mais cantada dentro do ônibus. E não poderia ser de outra maneira. Pois Madalena Bremer, uma carioca com aspecto alemão, o que também não poderia ter sido de outra maneira já que é descendente pelo lado materno de alemães, foi a nossa guia. Encontramos com ela em Guarulhos no início da viagem e em Guarulhos ela nos devolveu.
 
Por praticamente três semanas ela fez parte de minha vida. É uma mulher jovem e de aparência saudável que resolveu todos os nossos problemas durante esse período. Paciente ao extremo não deixou a peteca cair em nenhum momento. Estava ali sempre a disposição para atender um Grupo enorme de pessoas adultas, mas que muitas vezes se comportava como criancinhas do Jardim da Infância.  Aliás, é com isso mesmo que se parece um grupo de viagens, uma turma de jardim da infância precocemente envelhecida seguindo uma tia cuidadosa que ora empunha uma vara com uma fita roxa, ora uma sombrinha colorida. E lá íamos nós atrás cuidando para não perdê-la de vista. E caso isso acontecesse, ela não se zangava: esperava pacientemente o retardatário ou até ia buscá-lo.
 
Madalena é a guia perfeita. Poliglota, culta e simpática, sempre sorridente. Gostei tanto dela que decidi: Se eu ganhar na Sena no final do ano, cujo prêmio se supõe chegará a 100 milhões de reais, eu a contratarei como minha secretária particular. Mas, se isso não acontecer, sempre que for viajar pela CVC vou torcer para reencontrá-la como Guia.
 
Um dos momentos mais ternos dessa viagem foi vivido por ela. Íamos de Florença para Veneza quando de repente cruzamos com um ônibus vindo de Veneza para Florença e ela disse com voz embargada, enquanto acenava para alguém, no ônibus que passava: Gente, é o meu marido! Não é preciso dizer que todos ficamos emocionados em face da emoção dela.
 
Madalena e seu marido são guias de viagem autônomos. Trabalham por contrato e vivem no Rio de Janeiro. Dessa vez estavam os dois na Europa e passariam algum tempo sem se encontrarem. Ela voltou conosco para São Paulo e dois dias depois estaria de volta para a Europa. Faria um novo roteiro visitando outros países, como a Alemanha, onde vive sua mãe, que para lá voltou depois de viúva. Mas nem sempre quando vai a Alemanha ela vê a mãe porque suas viagens são sempre corridas.
 
Por tudo que vi a vida de um guia de viagem não é muito fácil. As associações de guias são muito severas. Madalena leva os grupos para a Europa, mas não pode trabalhar ali, como guia: se for pega burlando a lei pagará uma multa pesada. Quando chega a uma cidade o trabalho de guia passa para os guias locais. Tanto é que em cada cidade tínhamos um guia diferente: Preciosa, Estrela, Luz, Margarida, Carmem e alguns homens dos quais não recordo os nomes. Só de um, Charles um francês extremamente arrogante.
 
Talvez eu nunca mais a veja nem tenha notícias dela. Mas sei que a cada vez que me lembrar dessa viagem ou ouvir a música de Ivan Lins me lembrarei dela com carinho. Sempre sorrindo!
Lavras, 4 de outubro de 2009