Viajando por ali e aqui


Preciosa (6)
 
Houve um tempo em que eu assistia a uma novela no rádio e me apaixonei perdidamente pela voz do protagonista. E em meus sonhos de pré - adolescente o homem de minha vida me chamaria de preciosa, assim como ele chamava a mocinha da história. Nunca me esqueci disso. É incrível como a memória retém fatos assim, tão desimportantes. Até hoje eu me recordo do som de sua voz chamando-a preciosa. Mas nunca ninguém me chamou assim. Essas lembranças ficam enterradas e só brotam, como uma semente adormecida no deserto após uma chuva. E nessa viagem que fiz a Europa a chuva que fez brotar a semente foi a existência de duas mulheres chamadas preciosas, todas as duas portuguesas. Uma delas participava do grupo: vivia no Brasil e estava indo com o marido, também português, conhecer suas raízes. Ele a chamava Preciosa, mas sua voz não me inspirou. A outra foi uma das guias locais que nos mostravam as cidades. Foi com ela que conheci Lisboa e seus arredores.
06 de setembro de 2009. Era aniversário da morte de minha avó Maria. Eu e ela sentíamos pela outra um amor incondicional. Era na casa dela que eu ouvia as novelas de rádio que minha mãe não permitia que eu ouvisse. Foi nela que pensei assim que tomei ciência da data. Depois me preparei para o dia que eu antevia magnífico. Após um excelente café da manhã, onde pela primeira vez eu comi um melão e gostei. Os melões brasileiros são completamente insossos, mas quando eu os comi em Portugal e Espanha essa fruta tornou-se a minha preferida: doce e macia, derretia na boca. Sei que agora vou me transformar em uma caçadora de melões até encontrar um por aqui que me devolva o sabor dos melões ibéricos. Disseram-me que os que vêem envolvidos por uma redinha são semelhantes, mas ainda não vi nenhum deles por aqui.  Os melões estão encabeçando a lista que pretendo fazer: Cem motivos para voltar a Europa, já que foi o primeiro item dessa viagem pelo qual me apaixonei perdidamente. Mas outros foram surgindo a partir daí.

Com Preciosa fomos conhecer a Costa de Lisboa, depois de conseguirmos nos livrar dos vendedores de xales de viúva. Os chamei assim porque fizeram com que eu me lembrasse das viúvas dos navegantes que morreram em alto mar. Não comprei nenhum, mas me arrependi. Eram muito bonitos.
Sintra, Cascais, Estoril, as pérolas da costa lisboeta. Sintra É uma cidade maravilhosa que faz parte da área Metropolitana de Lisboa. Foi ali que comprei o galo tipicamente português que hoje está na minha cozinha portando os guardanapos de papel do dia a dia. Caiscais, uma antiga aldeia de pescadores, com suas pequenas praias minúsculas, todas lotadas nesse dia quente de fim de verão. Vimos as maravilhosas casas de Setembro, correspondentes as nossas casas de verão ou de praia. E ainda conhecemos Estoril e seu famoso castelo. Almoçamos  em Cascais, no Dom Manolo sob um céu completamente azul. Foram nos servidos churrasco de frango branco e sardinhas espinhentas, pois o almoço era pré agendado. Comida não aprovada pelo meu estomago adorador de massas. Com tempo livre para flanar por ali acabamos nos perdendo. Foi uma sorte avistar a Guia do Grupo e poder retomar o caminho. Para matar a fome, mais tarde fomos a Pastelaria suíça onde comemos batatas fritas e bebemos uma boa cerveja. E experimentei sorvete de arroz doce. Mas isso foi bem mais tarde, pois antes ainda rodamos bastante. Fomos até a Torre de Belém e caminhamos debaixo das oliveiras. Vimos todos os monumentos importantes que devíamos ver, avistamos a ponte que liga as duas margens do Tejo e que atravessaríamos mais tarde ao seguir nosso caminho, conhecemos os bairros tradicionais e enquanto alguns rezavam na Igreja do Monastério dos Jerônimos fomos comer os Pastéis de Belém. Foi um dia e tanto o meu primeiro dia no velho mundo.
 
Lavras, 03 de outubro de 2009