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SEU AUGUSTO E A VEDETE

Seu Augusto chegou esbaforido na clínica médica. Parecia uma barata tonta e nem sabia para onde ir. Afinal, há um ano e quatro meses havia marcado um exame que só agora fora liberado pelo INSS.
Seu Augusto falava alto. Na verdade, quase gritava. Ainda não estava acreditando que seu exame de videolaringoscopoia seria feito.
Sofrera durante todo esse tempo com medo de um câncer, porque, na sua cabeça, médico nenhum pediria um exame desses se não tivesse uma suspeita de alguma doença importante.
Seu Augusto me confessou que todos os dias, antes de dormir, rezava para todos os santos pedindo um tempinho a mais para dar tempo de se cuidar.
Quando olhei para Seu Augusto, ele sorriu para mim com um sorriso de quem pede socorro, ou talvez, colo.
Percebendo seu desespero me acheguei já tentando acamá-lo.
-Seu Augusto, fique tranqüilo, o médico vai fazer o exame no senhor. Fique calmo. O exame não é um bicho de sete cabeças. É um filminho. O aparelho tem uma câmera que vai filmar a sua garganta. Fique calmo, o exame vai ser moleza.
-Sei não minha filha, vocês gostam de enganar a gente. Ta pensando o quê? Que nasci ontem!
Seu Augusto me pareceu uma criança desprotegida. Balançava as pernas. Enfiava as mãos dentro do bolso e de repente estava caminhando para lá e para cá, no salão de espera. Era um verdadeiro bichinho desprotegido fugindo da hora do abate.
Chamei Seu Augusto para consulta.
- Venha cá meu amigo, chegou a sua vez, o doutor está à sua espera.
Seu Augusto se benzeu com uns três em nome do pai e entrou consultório adentro.
Foi tão rápido que ultrapassou o limite da mesa do médico e nem percebeu.
-Seu Augusto, disse -lhe o médico. Pode ficar tranqüilo porque este é um exame simples. Não tem nada demais. Eu vou pegar a sua língua com uma gaze, vou mandar o senhor falar um “i” bem fininho e quando o senhor cansar, o senhor pode respirar tranqüilamente.
- Doutor, eu preciso lhe falar antes uma coisa – disse Seu Augusto.
- Estou lhe ouvindo, pode falar – respondeu-lhe o médico.
- Olha, há uns quarenta anos atrás eu trabalhava em fornos e um dia o forno enguiçou e deu uma explodida.
- O que aconteceu Seu Augusto?
- O senhor não vai acreditar em mim, mas eu vou contar assim mesmo.
- Foi grave?
- Foi sim. Tanto que queimou o meu ouvido e derreteu que nem plástico o meu tímpano. Hoje quando o doutor examinar a minha garganta vai ver que dentro de mim está tudo misturado. O meu ouvido, com o meu tímpano e com a minha garganta.
- Seu Augusto, eu tenho certeza que isso não aconteceu. Vou examinar o senhor e depois vou lhe mostrar que tudo não passa de sua imaginação. Posso encontrar algum cisto ou não.
Vamos ao exame.
Seu Augusto abriu a boca e lá se foi a câmera percorrendo a sua base lingual. E nem assim seu Augusto parava de falar.
- Seu Augusto o senhor não tem nada. Disse-lhe o médico. O seu problema é apenas uma questão de correção através de uma profissional de fonoaudiologia.
- Doutor, devo lhe confessar uma coisa. Gosto de cantar e por isso acho que fico rouco.
Já fui nessa tal de “fonoaudiogista”, mas a doutora parecia mais uma vedete do que uma profissional.
- Porque, Seu Augusto?
- Ah! O senhor precisava ver o que ela mandava eu fazer.
- São exercícios para consertar a voz, Seu Augusto – retruquei.
- É que você não viu o que ela fazia – me respondeu.
Insisti numa nova pergunta:
- Seu Augusto, mas o que fez o senhor pensar que ela parecia uma vedete?
- Olha minha filha! Ela fazia tantas caras e bocas e tantas caretas e ainda por cima me mandava repetir. Eu parecia uma galinha cocoricando.
- Seu Augusto!!!! Isso é exercício de voz – interveio o médico.
- È ruim hem! Aquela vedete me fazendo parecer que queria botar um ovo e eu lá que nem um paspalhão olhando para cara dela.
E fatalmente, Seu Augusto completou:
- Ela pode ser vedete pras negas dela, mas eu não sou bicha não!!!