NAS ESQUINAS DA VIDA
Quando eu era menina, minha mãe costumava dizer: “a nossa vida pode mudar ao dobrar uma esquina”.
Notava que, quando saíamos juntas, ela sempre dizia ao dobrar uma esquina: “a paz de Deus nos acompanhe”. Cresci lembrando-me disto. Ficava curiosa e perguntava-me o que poderia acontecer ao dobrar uma esquina, que mudasse a nossa vida... Encontrar uma fada? Surgir um monstro? O passeio estar destruído? Ou a rua interditada?... Adolescente, lembrava da “mudança ao dobrar uma esquina” e habituei-me a dizer a frase que ela sempre pronunciava, mas fui esquecendo... (a gente sempre esquece coisas que não compreende). A gente sempre esquece também sábios conselhos dados pela sabedoria das pessoas mais idosas e a gente sempre esquece tudo o que naquele momento em que foi dito, não nos agradou, estando nós em uma situação aparentemente deliciosa, onde não caberia nenhum tipo de sugestão ou conselho, a não ser o nosso fugaz desejo, a nossa premente necessidade, o nosso efêmero prazer.
À medida que crescemos cronologicamente e interiormente, voltamos, como em uma viagem de retorno a outro século, em uma máquina necessariamente criada por nós para esta aventura, máquina esta que só nós sabemos o que usamos para construí-la, a uma época em que ouvimos determinada frase e, como se diz hoje, respondíamos (mesmo sem falar): tô nem aí... E o que acontece? Cai a ficha, acende a luz, vem o insight.
Nós construímos esta máquina com peças para apertar bem apertado as alegrias; com chaves de fenda para retirar parafusos de sentimentos mal colocados; usamos óleo lubrificante para que as peças tristes e alegres sejam devidamente “lubrificadas” a fim da máquina funcionar bem. Isto porque existem peças tristes que fazem parte desta máquina, também. Elas não podem ser simplesmente retiradas assim, facilmente. Precisam ficar ali, para formar o conjunto. E durante a viagem, vamos apreciando a “paisagem” da nossa vida...
E o que tudo isto tem a ver com a frase: nossa vida pode mudar ao dobrar uma esquina?”
Tem que, a cada “esquina”, se não estivermos preparados para encontrar a fada ou o monstro, a coisa pega, porque viver é uma aventura povoada de fadas e monstros. Vejo agora, a metáfora da sábia frase de minha mãe. Quantas esquinas dobramos na vida sem sequer sair da poltrona onde estamos confortavelmente sentados? Quantas esquinas dobramos ao tocar a maçaneta de uma porta de banco, por exemplo, ou ao encontrar um amigo distante, ou despedir-se do ser amado? São tantas esquinas, não é mesmo?
E como nos prepararmos para dobrar as esquinas sem torcer o pé na calçada quebrada, ou ser seqüestrado pelo monstro, ou transformado em sapo pela bruxa ou mesmo, receber um sapato de cristal da fada? Sabe-se lá... Cada um tem seu jeito, mas, aqui para nós, penso que a coisa é simples e resume-se em: Preste Atenção! Estar atento ao nosso interior, às reações do nosso corpo, às respostas de nossa alma, aos nossos pensamentos, ao que o outro diz, ao que damos e recebemos, à sujeira que apareceu em nossa porta ou ao dinheiro que emprestamos há tempo...E chegou quando nem lembrávamos, à flor que desabrocha na chapada, à picada dolorosa de uma abelha, ao outdoor que parece que foi feito para nos dar um recado, ao que fazemos aos outros, ao que permitimos que outros façam conosco, aos nossos sonhos em dormindo ou acordado, ao “obrigado”, ao “por favor” ao “acredito” ao “conte comigo” ao “vai pastar” à nossa respiração, às borboletas no estômago, às causas e aos efeitos, ao plantio e à colheita, ao joio e ao trigo.
Assim, ao dobrar uma das inúmeras “esquinas” da vida, vamos estar preparados, ou, pelo menos, nem tanto surpresos com a mudança. Agora, proferir a frase “que a paz de Deus me acompanhe”, sem dúvida, faz parte.
A PAZ DE DEUS NOS ACOMPANHE
::::::
Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente...
Almir Sater e Renato Teixeira (Tocando em frente)
Imagem: FLICKR
Quando eu era menina, minha mãe costumava dizer: “a nossa vida pode mudar ao dobrar uma esquina”.
Notava que, quando saíamos juntas, ela sempre dizia ao dobrar uma esquina: “a paz de Deus nos acompanhe”. Cresci lembrando-me disto. Ficava curiosa e perguntava-me o que poderia acontecer ao dobrar uma esquina, que mudasse a nossa vida... Encontrar uma fada? Surgir um monstro? O passeio estar destruído? Ou a rua interditada?... Adolescente, lembrava da “mudança ao dobrar uma esquina” e habituei-me a dizer a frase que ela sempre pronunciava, mas fui esquecendo... (a gente sempre esquece coisas que não compreende). A gente sempre esquece também sábios conselhos dados pela sabedoria das pessoas mais idosas e a gente sempre esquece tudo o que naquele momento em que foi dito, não nos agradou, estando nós em uma situação aparentemente deliciosa, onde não caberia nenhum tipo de sugestão ou conselho, a não ser o nosso fugaz desejo, a nossa premente necessidade, o nosso efêmero prazer.
À medida que crescemos cronologicamente e interiormente, voltamos, como em uma viagem de retorno a outro século, em uma máquina necessariamente criada por nós para esta aventura, máquina esta que só nós sabemos o que usamos para construí-la, a uma época em que ouvimos determinada frase e, como se diz hoje, respondíamos (mesmo sem falar): tô nem aí... E o que acontece? Cai a ficha, acende a luz, vem o insight.
Nós construímos esta máquina com peças para apertar bem apertado as alegrias; com chaves de fenda para retirar parafusos de sentimentos mal colocados; usamos óleo lubrificante para que as peças tristes e alegres sejam devidamente “lubrificadas” a fim da máquina funcionar bem. Isto porque existem peças tristes que fazem parte desta máquina, também. Elas não podem ser simplesmente retiradas assim, facilmente. Precisam ficar ali, para formar o conjunto. E durante a viagem, vamos apreciando a “paisagem” da nossa vida...
E o que tudo isto tem a ver com a frase: nossa vida pode mudar ao dobrar uma esquina?”
Tem que, a cada “esquina”, se não estivermos preparados para encontrar a fada ou o monstro, a coisa pega, porque viver é uma aventura povoada de fadas e monstros. Vejo agora, a metáfora da sábia frase de minha mãe. Quantas esquinas dobramos na vida sem sequer sair da poltrona onde estamos confortavelmente sentados? Quantas esquinas dobramos ao tocar a maçaneta de uma porta de banco, por exemplo, ou ao encontrar um amigo distante, ou despedir-se do ser amado? São tantas esquinas, não é mesmo?
E como nos prepararmos para dobrar as esquinas sem torcer o pé na calçada quebrada, ou ser seqüestrado pelo monstro, ou transformado em sapo pela bruxa ou mesmo, receber um sapato de cristal da fada? Sabe-se lá... Cada um tem seu jeito, mas, aqui para nós, penso que a coisa é simples e resume-se em: Preste Atenção! Estar atento ao nosso interior, às reações do nosso corpo, às respostas de nossa alma, aos nossos pensamentos, ao que o outro diz, ao que damos e recebemos, à sujeira que apareceu em nossa porta ou ao dinheiro que emprestamos há tempo...E chegou quando nem lembrávamos, à flor que desabrocha na chapada, à picada dolorosa de uma abelha, ao outdoor que parece que foi feito para nos dar um recado, ao que fazemos aos outros, ao que permitimos que outros façam conosco, aos nossos sonhos em dormindo ou acordado, ao “obrigado”, ao “por favor” ao “acredito” ao “conte comigo” ao “vai pastar” à nossa respiração, às borboletas no estômago, às causas e aos efeitos, ao plantio e à colheita, ao joio e ao trigo.
Assim, ao dobrar uma das inúmeras “esquinas” da vida, vamos estar preparados, ou, pelo menos, nem tanto surpresos com a mudança. Agora, proferir a frase “que a paz de Deus me acompanhe”, sem dúvida, faz parte.
A PAZ DE DEUS NOS ACOMPANHE
::::::
Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente...
Almir Sater e Renato Teixeira (Tocando em frente)
Imagem: FLICKR