A PENA DO TEMPO...
Às vezes paro e fico a pensar... e quase sem querer, minha impaciente paciência me conduz, invariavelmente, ao mesmo lugar. Então, refaço frequentes perguntas que vivem a povoar meu cérebro de dúvidas que – por mais que eu tente, com meu impotente poder de alguém que sonha em mudar o mundo – não encontro respostas lógicas, ou sequer satisfatórias. Nesse emaranhado de indagações, sinto-me como se estivesse numa velha estrada. Na cabeça, novos pensamentos – alternando bons e maus momentos. Meu saudoso coração vive lá, onde mora o passado. Mas... e o futuro, onde viverá?
A velha pena que escreveu a história dos séculos foi definitivamente substituída pela tecnologia. Hoje já não se manda cartas ou telegramas. Ou mesmo furtivos bilhetes, rabiscados em pedacinhos de papel. Hoje envia-se e-mails, torpedos, mensagens em SMS, entre tantos outros. Sim, mas... cadê o romantismo? Infelizmente, com esse imenso avanço tecnológico, muito dele se perdeu. Será que ninguém se dá conta de que o tempo passa depressa? De que não adianta a pressa? Ele passa... e a moderníssima borracha do tempo apaga o que acabou. E mostra o novo, o moderno, o atual. Impiedosa, não deixa sequer um vestígio, a não ser na lembrança! E esses, nada nem ninguém poderá apagar! E o tempo – menino maroto que gosta de brincar de esconde- esconde – na verdade, mostra mais do que esconde. Coloca-nos frente a frente com a realidade fria. Mostra-nos o preço que pagamos pela evolução. É o buraco na camada de ozônio, causando o aquecimento global, entre tantas outras catástrofes. E a invisível pena do tempo vai narrando a triste história da atmosfera deflorada. Das matas derrubadas, das flores covardemente arrancadas. Das estradas recém abertas a sangrar, silenciosas, em meio ao verde da floresta. Escreve, com este mesmo sangue, a angustiante história do Pulmão do Mundo impossibilitado de respirar. E a dolorosa saga de raros e indefesos animais, morrendo sem parar...
Sim, a pena que no passado escreveu dos antigos amores as histórias, e de muitos grandes autores as memórias... essa já não existe mais! Hoje ela não está aqui para registrar – guiada pela mão de algum inconformado como eu – a poluição ambiental. A poluição sonora e visual. A poluição mental, a poluição verbal. E a terrível poluição moral. Causada, em grande parte, pela poluição constitucional. Porque enquanto os poderosos lá em cima fazem a festa, lamentar é só o que nos resta. Ou protestar. Sair às ruas em passeatas, com faixas e cartazes, a gritar. E aí com certeza autoridades, armadas com bombas de gás, irão nos dominar... e à noite, a televisão irá noticiar... e tudo, como sempre acabará em pizza, e absolutamente nada irá mudar!
Então me pergunto: seria melhor nos conformar? Ou inventar uma nova forma de lutar? Algo tão poderoso que a frágil tinta da pena do tempo jamais possa riscar, rasurar ou apagar...? Não sei... preciso pensar. Pensar muito, com bastante fé e carinho, para que essa solução eu possa encontrar...