Quinze minutos é tempo demais
A funcionária de minha mãe, mulher simples demais, me disse, no meio de uma conversa:
- Puxa, dona Nádia, eu sou mais feliz que a senhora!
Que pese o fato dessa pobre mulher do povo viver numa casa que a obra da prefeitura rachou, sustentando uma filha que pariu um pestinha e já espera outro, num bairro onde a marginalidade é absurda, que tinha um marido que lhe batia (do qual ela se livrou após 16 anos de espancamento) e que trabalha pesado tomando conta de três idosos.
Naquele momento tudo fez sentido para mim. Aquela mulher disse uma verdade grande.
Tereza - esse é o seu nome - é a pessoa mais feliz que eu conheço. Canta tudo quanto é música que ouve no rádio, dá risadas maravilhosas - daquelas de perder o fôlego - adora uma conversa fiada, é chegada numa cervejinha e num forró.
Na ocasião da conversa me queixava eu do meu acharque - dores da neuropatia diabética - que me incomodava. Reclamei uns quinze minutos.
Aí, Tereza me sai com essa.
Fiquei envergonhadíssima. Fui forçada a reconhecer que ela estava com a razão. E ela não estava zombando de minha dor; ao contrário, sentia pena por que a danada da dor estava com a peste nesse dia, não me dava sossego.
Claro que a dor não parou de doer e de vez em quando me aperreia, mas eu passei a encarar de forma diferente. A dor dói, paciência. Faz parte do quadro da doença e fora um remedinho aqui outro ali, nada há para fazer. Não parei de reclamar, só que hoje em dia reclamo uns dois minutos, xingo a infeliz da diabete e trato de cuidar de minha vida.
Quinze minutos é tempo demais para se estar reclamando; tempo demais pra perder.
Conheço gente que vive reclamando, tanto ou mais que eu. Gente que entra em depressão por que não tem homem, ou não tem mais dinheiro, ou queria se dar bem na política e não se deu, por que não pode fazer a plástica que queria, por que engordou, por que envelheceu. Conheço gente que se deprime por que a filha ainda não passou no concurso para juíza, por que não conseguiu comprar um sapato de griffe ou o carro do ano.
Gente infeliz, que sofre, mesmo, por estas coisas que não significam nada. Gente que perde dias e dias, uma vida, quase, guardando no peito um ressentimento, uma mágoa, um ódio.
Que desperdício, me ensinou Tereza. Que perda de tempo!
Hoje dou mais valor ao meu dia, reclamo menos e faço minhas as palavras de Tereza:
- Eu sou mais feliz do que você!
PS: o Rex não apareceu. Deve estar lendo algum clássico.