NOVE DIAS DEPOIS DO ONZE DE SETEMBRO

 
 
            Há oito anos um onze de setembro mudou o mundo, que chocado viu desmoronar as torres gêmeas, orgulho americano. No onze de setembro deste ano comecei o dia postando uma crônica sobre o assunto. Mas, em meu texto, não fiz referência as implicações políticas\econômicas\religiosas\diplomáticas daquele acontecimento que ainda queima em nossas lembranças.
 
            Falei sobre a dor das pessoas envolvidas. Tentei imaginar o quanto tinha sido doloroso para as famílias atingidas por aquela tragédia, assistirem tudo ao vivo. Não podia imaginar que uma ligação, no meio da tarde, me faria saber a extensão da dor de perder parentes sem ter tempo de dizer adeus. Sem dar o último abraço. Sem poder tocar a mão que, na solidão, segura a mão da morte.
 
            Por telefone, recebi a notícia que meu pai, juntamente com dois irmãos e um primo, havia sofrido um acidente. Meu irmão que estava dirigindo, tentando desviar de um carro com excesso de lateralidade (um trio elétrico), trafegando sem batedores, numa estrada sem acostamento, perdeu o controle e caiu num açude. Papai e meu irmão que estavam no banco de trás morreram afogados. Papai tinha pavor d’água.
 
            A partir daí me vi envolvida num redemoinho de emoções. A dor misturava-se ao desespero que cedia lugar a razão e se perdia nas lágrimas de lamento e orfandade. A razão lembrava que era preciso avisar aos familiares e amigos. O desespero me fazia ligar mais de uma vez para a mesma pessoa e esquecer outras. Omar, que estava viajando, foi quem avisou a grande maioria das pessoas.
 
            O telefone não parava de tocar. Todos queriam saber se era verdade ou alguém se atrapalhara ao dar a notícia. Custávamos a acreditar que, no mesmo dia, perdêramos nosso pai e um irmão. O mais irônico é que depois da doença de papai, de alguma forma estávamos preparados para receber uma notícia assim, não daquela maneira trágica, mas Zé só tinha 36 anos, viveu toda sua vida em função do trabalho e da família, era mais que um filho para papai. Era seu amigo, companheiro, parceiro. Aquele que, mesmo casado, nunca saiu de perto dele. Tudo entre eles era de comum acordo.
 
            Quando papai estava doente nos confessou que mesmo sabendo que não nos afastaríamos de sua família ele sabia que Zé cuidaria de Ditinha e seus filhos menores. Infelizmente não foi assim. Eles partiram juntos.  Ainda estamos perdidos. Perdemos nossa referência. A casa de papai ficou muito triste sem sua presença. Seu lugar à mesa está vazio. A cadeira em baixo daquela árvore parece esperar sua volta.
 
            No momento o manto escuro da dor e da perda ainda pesa sobre nossos ombros, mas a oração sincera em favor dos que partiram coloca um pouco de luz nesta ausência, repleta de doces lembranças das horas felizes compartilhadas. 
 
           
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 20/09/2009
Código do texto: T1820777
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