Cronicão
Quem passa pelo quarteirão onde eu moro, há de achar estranho, ser banido da calçada por dois vira-latas. Ambos não são cães de rua e sim da rua; ou, guardas-quarteirão que prestam serviço em troca de refeição que escolhem, ora numa casa ora em outra.
Tiririca, o líder, é branco com a cabeça marrom. Parece que usa capacete. É um cão de porte médio, pêlo curto, saudável e bem disposto, com ares de auto-suficiência.
Quando desconhecidos pisam na "sua calçada" ou se aproxima do portão que ele esteja guardando, o bicho se transforma em um cão bravo e exibi dentes afiados e ameaçadores. Expulsa até o mais atrevido transeunte.
Clementino é o ajudante do Tiririca: mais humilde e cordato; nem por isso permite ter o seu lugar usurpado.
Ambos protegem a moradia cujo dono está ausente. Ou montam guarda no portão do casal de velhinhos.
Completamente ambientados, são livres como os pássaros que habitam as árvores do bairro: viveiros naturais.
Tiririca e Clementino conhecem os moradores e pessoas que trabalham no quarteirão. Estes tem passagem livre e direito a saudações que consistem em abanação de rabo seguida de graciosa dança que os dois, quando inspirados, se dignam em oferecer.
Mas quando vêm as visitas, recebê-las eles não sabem. São guardas e não anfitriões.
Jerson Brito comenta de uma maneira tão legal que considerei um presente. Colei para que todos se deliciem. - Muito grata. Anita
Tiririca e Clementino
Essa dupla é do barulho
Nesse mundo tão canino
Devem ser um grande orgulho
Defendem seus vários donos
Enquanto curtem seus sonos
Da invasão e do esbulho.
**** Bela crônica, Anita. Quando li o título - por sinal, muito bacana e apropriado - achei que fosse uma crônica enorme (rsrs). Parabéns!!!