22 DÁ GOSTO LER, VER E OUVIR

Antes de falar, considero essenciais estas três sensações: ler, ver e ouvir. São atitudes sensoriais básicas do indivíduo, perante o palco da vida.

Todo mundo deveria tomar às mãos um bom livro de contos, de crônicas, poemas, um romance, uma novela. Ou mesmo revista, jornal, que sempre nos trazem atualidades, ó meu! Tais joças são esteios, pontes de fundamental serventia. Um livro, ou escrito qualquer, de qualquer gênero, tai também uma biografia. Até a lista telefônica, se for o caso. E digo mais: um livrinho de culinária, desde que na mão certeira, fará grande fita ali pelos beirais da cozinha.

Dá gosto ler Machado de Assis, então um José de Alencar ou Graciliano Ramos. Tu ainda não leste qualquer um destes caras, ainda não? Cito-os ao acaso, como exemplo. Mas todo e qualquer autor de alguma manufatura escrita tem lá a sua validade. Dá um tremendo gosto, para quem é chegado à leitura, claro, espinafrar com os olhos e o encéfalo esses, ali, que foram referidos e mais outros notáveis cidadãos do mundo. Escritores são cidadãos do mundo, sejam tão notáveis ou não. Por isso é que eles nos repassam certo direito à cidadania, que é o ato de a gente poder (e dever) ler. Como disse o Lênin, “ler, ler e ler muito”. Porém, sem meias palavras, se tarefa para lê-los (a eles, cidadãos do mundo, cada qual), a seu clima de época, sem frescura de o gajo andar falando assim: “isto é cafona, leitura cacete, estilo caduco”, e por aí.

Também dá gosto, uma sensação de ante-sala do prazer lúdico e estético, é você folhear (para ler) Clarice Lispector, Érico Veríssimo e João Ubaldo. Jorge Amado? Ah!, nem se fala. Este, pedra diamante, para se dar pontapé na iniciação “letral” (eu não disse letal). Agora, tudo aqui é hipotético. Vamos supor que, mesmo gostando do lereado, caiam-te à praia do ler os teatrólogos/novelistas Dias Gomes, Janete Clair e Nélson Rodrigues, ou a contista Lígia Fagundes Telles. E se te tocar de sorte o Chico Buarque, com aquele seu/dele teatro e romances massas? O Chico é massa em tudo. Na música, viche!

Dá muito gosto ao leitor inveterado, sobretudo, pulando por cima dos percalços, é aberturar para remoer aquele opúsculo amarelado pelo tempo de Coelho Neto, Humberto de Campos (eu só tenho quatorze deles), então de Euclides da Cunha.

Dá muito gosto, demais, e ao mané que for, lá numa varanda arejada de silêncio, é o titio aqui, por exemplo, afilar no nariz da leitura regionalista e ao mesmo tempo universal de Gilberto Freyre, José Américo de Almeida, Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Outro do regional beleza? João Simões Lopes Neto, gaúcho bom.

Dá um gosto roxo, lascado, mas me ia esquecendo, é um bicudo e atrevido enfiar o olho por entre as páginas gongóricas de “seu Rosa”, das Gerais, o inestimável Guimarães Rosa. Aquele médico e diplomata genial, e meio biruta, que inventou o caso de Diadorim (m ou n, nem vou checar), fêmea lindona que estragava o seu esplendor de belo-sexo por debaixo de um gibão de vaqueiro.

Aff!... Dá gosto, igualmente lascado, é o dulçor dos textos destes vates, entre tantos favos de mel que serei obrigado a omitir, por extrema carência de espaço: Castro Alves, Álvares de Azevedo, Bilac, Drummond, Bandeira, Vinícius, João Cabral, Cecília Meireles, Adélia Prado, e por que não, o cabeça-chata “Patativa do Assaré”? Ai, fazer listagem é sempre esquecer-se de muitos, na certa. Por tal e qual, bicho, vai logo acabar de colorir os teus belos olhos com os cobrões da net, justo no “Recanto das Letras”.

Segundo prazer pai-d’égua que nos dá: v e r grandes filmes. Assistir a filmes e seriados pela tevê, mas coisas que prestem. Enlatados violentos, injetando o mito do super-homem imperialista, lá do Tio Sam, nem pensar. Bota tudo aquilo no lixo. E com todo o gosto possível, com o maior prazer, e sobretudo, vai tu mesmo(a) assistir a toda genial obra de Charles Chaplin. Ao ver o Carlitus, eu me desconjunto de rir, minha boquita vai de orelha a orelha.

Ainda neste departamento, dá gosto ver o mar, meter olho guloso no rosto hospitaleiro da musa da gente, aquela que se fizer atualmente amada, “mas amada pra valer”, como sentenciou o poeta de Ipanema.

Ah, como daria gosto ver crianças à solta, sem muralhas nem marginalidade! Soltos todos os pássaros, criminosos de “colarinho branco” no fundo da gaiola.

Hás de concordar comigo... Afinal de contas, em terceiro, além da nossa Bossa Nova (não importa se já velhinha), o que mesmo conta e dá prazer de o u v i r, sem limites de tempo ou espaço, é a graça angelical da outra banda do “eu” da gente, a ressonar, no vento, na música que toca no aparelho, e se bem é suave, até na recitação do mar, quando este um nos vocifera versos de indizível saudade.

Fort., 18/09/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 18/09/2009
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T1817370
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