Correio mágico

Dia desses eu assisti aquele filme "melosinho" que marcou o reencontro dos astros Keanu Reeves e Sandra Bullock, que fizeram par no "Velocidade Máxima 2": "A Casa do Lago". Provavelmente todo mundo que goste do gênero já assistiu. Um romance normal, nada muito excepcional. Eu achei muito bom, mesmo sem achar "O" filme. Mas ainda assim, foi interessante ver estrelas do calibre dos dois fazendo um filme com um mote tão simples quanto aquele.

Mas deixando a propaganda de lado, vamos direto ao que interessa: a caixa de correio mágica. Isso é uma tática normal para esse tipo de filme: ligar os protagonistas através de uma intervenção misteriosa. O casal que se encontra por uma situação bastante inusitada. Clichê natural e muito bem aceito pelo público.

Porém, eu achei interessante a abordagem dada a caixa. Em nenhum momento, os protagonistas se preocuparam em entender o porquê de aquilo estar acontecendo. Eles receberam aquela chance e pensaram simplesmente em aproveitá-la. Questionar o motivo? Nem por um instante.

E isso é diferente do habitual para estes filmes. Normalmente o casalzinho corre feito doido durante um bom tempo, tentando entender a maldade que lhes aconteceu e, no decorrer do processo, acabam se envolvendo.

A Casa do Lago é diferente justamente por isso: não relata uma paixão acidental que acontece devido ao convívio imposto aos pombinhos, mas sim o exato oposto. Enquanto os dois vivem em mundos completamente diferentes, interligados apenas por uma caixa de correio que parece conectar o passado ao presente, eles acabam se conhecendo através deste convívio sem pretensões. Engraçado que no decorrer do filme, você consegue perceber como o relacionamento iniciou-se como um acidente mas que rapidamente despertou a curiosidade de ambos. Aquilo seria real? Estaria realmente acontecendo? E antes mesmo de responder estas perguntas, os dois já percebem que ela não é importante. Questionar os meios não faz do fim mais valioso. O sentimento que daquilo nasceu já ganhou maior importância que o fato propriamente dito.

E foi nisso que eu estive pensando até agora: como raios nenhum dos dois estranha o fato de sua caixa de correio ser mágica? Quer dizer, se fosse comigo, eu provavelmente tentaria mostrá-la ao mundo, ficar famoso e afins.

Certo, brincadeiras à parte, eu realmente fiquei curioso quanto ao desinteresse dos pombinhos com relação à magia que os reuniu. O que poderia significar essa atitude? Por que deveriamos deixar passar despercebido o objeto mágico que está cravado na frente de nossa casa?

E a resposta para esta pergunta é bem simples, suponho... Quando se compara o valor das duas coisas, qual seria realmente a mais importante? Um objeto mágico, ou a possibilidade de uma paixão, de um relacionamento, de uma experiência única na vida?

Pois é... É ligeiramente óbvio que o que realmente conta nesse caso é o sentimento que nasceu entre os dois, sem se levar em consideração os meios. Quer dizer, quem liga se realmente existe uma caixa mágica no jardim? Estamos falando de um amor verdadeiro, não?

Isso me mostrou como certas vezes nós invertemos os valores das coisas. Nós não prestamos atenção ao que realmente importa. Quando nos achamos apaixonados, ou vivendo qualquer sorte de sentimento do tipo, em certos momentos, nos parece que muitas outros detalhes são mais importantes. "Será que vai durar? Será que dará certo? Será que é a coisa certa? Será que vai me ajudar a evoluir?"

Mas isso é realmente o que importa? No filme, em um dado momento, a personagem Kate comenta que muitas vezes nós ficamos nos guardando durante a vida, esperando por algo especial. E isso pode até parecer a coisa certa a se fazer, mas que talvez, se a tal pessoa especial não aparecer, nós poderemos passar a vida inteira esperando.

Eu discordo dela, em partes. Realmente, nós perdemos muito tempo da nossa vida esperando. E mesmo quando o algo especial que nós estavamos aguardando aparece, nós continuamos esperando. Esperando que seja o momento certo, esperando ter coragem, esperando que a outra pessoa dê o primeiro passo. E talvez seja por isso que nós perdemos tantas coisas importantes na vida. Por esta espera, esta insegurança que nos tranca, nos impede de simplesmente aproveitar o que está acontecendo.

Mais uma vez, deixo escrita aqui a minha admiração pela capacidade do ser humano em complicar coisas simples. É incrível como nossa mente cria impecilhos para atrapalhar nossa evolução. E eu ainda não entendo isso... Essa necessidade que nós temos de causar dor a nós mesmos. De complicar tudo o que vai nos trazer felicidade. Seria tão mais simples se pudessemos aproveitar as coisas que acontecem de forma singular, sem precisar planejar todo o futuro para sentir segurança para viver o presente. As coisas seriam tão mais fáceis se nós pudessemos dizer o que sentimos sem os milhões de medos e complicações que nossa mente nos impõe, somando-se estes aos medos impostos pela mente da pessoa por quem nutrimos esse sentimento. Enfim, seria tão mais simples se vivessemos o momento e o sentimento atual, sem precisar pensar na frase certa a ser dita a seguir.

No fim das contas, a nossa capacidade intelectual, que teoricamente nos difere dos outros animais, trabalha mais para nos fazer infelizes do que para qualquer outra coisa. Quando dizem que a ignorância é uma dádiva, nós duvidamos, mas é verdade. Se o mundo fosse menos pensado e mais sentido, talvez não estivesse prestes a acabar.

Enfim...

O que eu quero dizer, resumidamente, é que a nossa mente tende a complicar os nossos sentimentos, talvez para valorizá-los, talvez para evitá-los, não saberei dizer. Mas no fim das contas, nós acabamos perdendo muitos deles por ter medo de aproveitá-los.

Hoje em dia, perde-se muito tempo pensando, quando se deveria sentir mais. Perde-se muito tempo planejando, quando se deveria improvisar mais. Perde-se muito tempo calculando, quando se deveria amar mais. E quando nós percebemos, o planejamento não deu resultado e o sentimento acabou. Nos resta o arrependimento e a dor. E tudo por que nós deixamos de sair para tomar sorvete por que nos pareceu mais sensata a ideia de ficar verificando onde estava a magia da caixa de correio...