AMAR NÃO TEM LÓGICA
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Não queiramos compreender o amor, porque o amor não se permite em degustação psicológica. Diante de um grande amor, apenas se deve amar e à platéia não compete intromissão. A função do amor é se dar, a função do ardor é queimar, a função do ator, representar. Não, não percamos tempo com a lógica do amar. A lógica nasceu para o capitalismo, para a matemática, para a vida prática fazer bom uso. Ignoremos os percalços do amor em nós, posto que dele mister se faz sentir, sonhar, chegar um pouco perto de Deus. Igualmente ignoremos a suposta falta de entrosamento entre os amantes: o mundo que abriga grandes amores rompe qualquer estrutura socialmente estabelecida, exatamente porque o homem não conseguiu, no tempo, estabelecer princípios para as relações originadas no imaginário humano na busca de ser feliz pra sempre.
Quando o amor toma alguém de sobressalto, submete seus entes às mais inconcebíveis atitudes. Para quem ama não há nada feio, nem errado e um mínimo gesto se veste de grandeza e o mundo fica sempre colorido.
Pra quem está de fora, as atitudes de quem ama parecem ridículas... Tal carta de amor, igualmente ridícula! Mas quem estiver de fora, um dia já foi de dentro, das entranhas "ridículas" do amor. E, se nunca foi de dentro, deve sofrer a angústia que nunca ter amado faculta!
Deixemos o julgamento para os tribunais, embora saibamos que parece inerente ao ser humano essa capacidade de meter o "bedelho" onde não deve. Especialmente nas questões da afetividade onde a natureza parece menos ser compreendida nas suas diversas fases em que dar e receber perdem o sentido, mas se encontram nos mistérios que só os amantes sentem.
O amor, como diz Djavã: "invade e fim"! E, quando um dia, a noite tenebrosa da ruptura dele interpuser, os raios do dia se encarregarão de dizer aos amantes seu novo destino. Talvez o dia fique cinzento, as coisas percam a graça, o beijo perca o sabor, o tato não mais se aguce, prenúncio de novo torpor. Mesmo nesse momento, ninguém queira esboçar compreensão, nem se meter na jurisdição. A vida se basta em si, amar não se basta não! Afinal, até o relógio parado, duas vezes por dia ele marca hora certa, mas ponteiros de amor não se acertam não.
CARLOS SENA, DOS ARRE(DORES) DE BOA VIAGEM, NO RECIFE-PE