" O discernimento humano "

É todo dia a mesma coisa.

Esses sons não param um só segundo. São os alertas, as sirenes, os motores, as onomatopéias escandalosas. Se não me bastasse, o vizinho do lado deu pra fazer festa toda terça à noite. É uma barulheira sem tamanho. Acho até estranho, porque o homem parece tão fechado. Nunca deu bom dia, e sempre anda de cabeça baixa.

Hoje quando o despertador soou...mais parecia um alarme. Achei até que tivessem assaltando meu "pobre lar" sem cerca eletrônica. Mas não. Era mesmo a hora de levantar.

O café foi pro microondas, que apitou cinco vezes depois de esquentá-lo. O relógio apitou às oito. Eu estava atrasado...mais uma vez.

Essa rotina de atraso me cansa. Não tenho nem mais o que inventar pro chefe. Mas também nem ligo muito. Ele nunca chega cedo também, e o seu sermão é só mais um barulho no meu ouvido. E por falar em barulho, hoje o morador do sobrado da esquina tava com a "bicha solta". Ninguém merece ficar ouvindo apito de caminhão dando ré logo de manhã.

O ônibus de manhã parece uma turbina de avião, e até a catraca apita quando libera a passagem. Fora a gravação da "mulherzinha" que anuncia o nome de cada ponto. Eu não aguento mesmo.

Depois falam que eu sou louco, que reclamo de tudo, que eu sou estressado demais, e isso, e aquilo. Eu não sou louco não. Na maioria das vezes estou com a razão e sei que sou uma pessoa responsável e ética. Também, desde os 21 anos trabalhando na bolsa de valores vendendo ação por telefone. Tenho orgulho da única assinatura na carteira. Hoje tenho 44. Amo meu serviço. Aquela comunicação constante sabe...você negociando com os clientes, convencendo eles de que o seu serviço é melhor do que o dos outros, conferindo o pregão eletrônico a cada segundo pra ver o preço das ações...a disputa incessante com o funcionário do lado naquele salão enorme cheio de gente tentando "vender o seu peixe"...as vozes constantes e os gritos que se ouvem à cada fechamento de negócio. É muita adrenalina!

Tomara que hoje à noite o vizinho não faça festa com aquele povo que enche o condomínio de carro e não pára de fazer barulho. Não suporto som alto.

Paulo Hirami
Enviado por Paulo Hirami em 12/09/2009
Reeditado em 27/11/2009
Código do texto: T1806891
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