Gastar pólvora com o cartucho alheio.

Quanto mais eu vivo, menos me surpreendo com as pessoas.

Cada um que abra a sua boca e clame a Deus prêmios de que se acha merecedor; que rogue contra a injustiça; que se reconheça grande; que se ache bom! Ou ao contrário, se ache ruim, com a desculpa de que é humano e os humanos são maus.

Pior do que estes é o que faz o bem com moderação, com medo das consequências do bem.

Por que o bem tem consequências. Você escapa das consequências do mal, se não o praticar, mas não há como o bem para se ramificar, se espalhar...quem faz o bem, sempre é incomodado para tornar a praticá-lo outra vez, e mais uma vez e mais uma.

É uma mera questão econômica! Aliás, é uma questão de se economizar...quem faz o mal se embriaga, mas se cura, normalmente...mas, quem faz o bem - seja em que modalidade - entra numa tal vertigem de visão das circunstâncias que rapidamente se recolhe à própria insignificância.

A visão mais perturbadora é a do sorriso de alegria, de alívio ou de gratidão do beneficiado. Isuportável para alguns, o rosto do beneficiado se ilumina, uma luz que vem direto de Deus, eu acho. Nem todo mundo suporta essa luz. Por esse motivo se negam. É muito para alguns.

Outra, fazer o bem nos coloca na prespectiva ótica da nossa própria insignificância.

Quem somos nós afinal? Que importância temos, mesmo quando ocupamos posições de conforto e destaque na sociedade humana?

A verdade é que somos, materialmente, nada. Perecíveis como qualquer yorgute. Perecíveis como "presunto" que somos (independente de sermos light).

Materialmente somos pouco mais que uma mortadela. (O Rex gargalha e diz que eu não me emendo... Não mesmo, dinossauro!)

Fazer o bem, praticar a caridade, tentar mudar a realidade (dura e pesada) de uma só pessoa, nos dá a real dimensão disso. Reconhecer que o outro sofre de uma necessidade,nos faz ver que muitos mais sofrem e que nós também sofremos dessas necessidades e que talvez a nossa não seja atendida, por inúmeros motivos (é subjetiva, depende só de nós, é fictícia - o pior tipo ).

Não, não, não! Não gostamos disso!

Somos ricos, lindos, bonitos e joiados! Nosso mundo é perfeito! Nossa dor é maior que as meras dores dos outros! Nosso problema é maior!

Como gastar, então, pólvora com o cartucho alheio?

Vamos rezar por nós mesmos, não pelos outros.

Vamos guardar nossa solidariedade como bem pessoal e intrasferível.

Vamos nos apossar da verdade e da razão.

Vamos, em silêncio, verificar, avaliar, julgar e condenar a falta alheia.

Vamos mostrar nossa face Super...

"Enquanto isso, na sala da justiça..." quem quiser que se arrombe, por que não estamos nem ai!

E dessas coisa, rio eu, junto com o Rex, enquanto nos embriagamos de sol.