A IGREJA CRISTÃ PRECISA MAIS DE MÁRTIRES DO QUE DE SANTOS
A IGREJA CRISTÃ PRECISA MAIS DE MÁRTIRES DO QUE DE SANTOS
As primeiras perseguições aos cristãos ocorrem em regiões específicas e localizadas do Império Romano. Essas perseguições acontecem desde o governo de Cláudio até o governo de Cômodo. Dos anos 50 aproximadamente até os anos de 192 da era cristã, houve muitas perseguições e mortes. Os primeiros mártires do cristianismo começaram a surgir. A teologia dos acontecimentos era viver e não morrer pelo Cristo. As mortes eram vistas como sinais de vida nova para os adeptos do cristianismo nascente. Nesse pensamento todos os apóstolos, com exceção de João, e muitos seguidores do cristianismo foram mortos pela causa do Reino de Cristo e sua justiça.
A perseguição a partir de 193 aproximadamente, sob o governo de Sétimo Severo até 311 sob o governo de Galério, foi mais agravante. Nesse período foram martirizadas as jovens Perpétua e Felicidade em Cartago.
Aureliano, 270-275 buscou a unificação e a solidificação do império. Introduziu um culto comum a todo Império, o culto e a adoração ao Sol invictus e atribuiu o título de Dominus et deus.
A partir da oficialização do cristianismo como religião do império, começa uma nova fase no mundo cristão. E ao passar do tempo começa também a perseguição aos não cristãos. Agora a Igreja começa a perseguir. Começa os martírios, mas daqueles que eram tementes a alguma espécie de pensamento transcendente, mas não eram cristãos. A Igreja, agora poderosa, afirma que não há salvação fora dela. E anátema sit a quem discordasse. Ia para fogueira, como ia por muitas outras ações dos próprios cristãos. Mesmo assim, muitos continuaram procurando a liberdade de fé, mesmo dentro da Igreja, mas sem manifestação. E hoje ela mesma diz que toda essa história foi o fruto de uma época.
Muitos cristãos, muito tempo depois, começaram a ver o mundo com os olhos da Luz e foram martirizados nos campos de concentração. Maximiliano Maria Kolbe, os franciscanos de Auschwitz, Franciszek Gajowniczek e outros. No Brasil também temos alguns mártires em tempos recentes: Frei Tito, Rudolf Lunkenbein, João Bosco Penido Burnier, Antonio Henrique Pereira, Dorothy Stang, Josimo, Xico Mendes; na América Latina temos: The Guevara, Carlos Morales na Guatemala, Enrique Angel Angelelli, Alfredo Kelly, Pedro Duffau, Alfredo Leaden, Emílio Salvador, esses na Argentina. Em El Salvador, Oscar Romero, no Panamá Éctor Gallego; no México, Juan Morán Samaniego, Martin Luter king nos EUA e tantos outros. Todos foram mortos por causa da fé numa causa maior. E em todos os casos há uma questão em comum que contrapõe: O poder. Poder político, poder econômico, poder religioso... E esses que deram as suas vidas não pensaram em poder, isso é fato, mesmo que a Igreja deles pensasse. Os mártires acima mencionados, todos lutaram por uma causa que a Igreja Católica e as Igrejas cristãs nos dias atuais não têm coragem de defender. Dar a vida pela causa do pobre, do perseguido, do sem voz e sem vez. Esses mártires, como os outros da história viveram na prática a fé na vida. Deram a vida por uma causa maior. Eles rezavam e agiam na harmonia da razão e do sentimento. A fé e a razão caminhavam unidas.
Hoje a Igreja passou a ser mais sentimental, mais introspectiva, menos compromisso social, achou melhor ser mais paternalista e menos socialista, menos provocadora da história. Um jeito próprio que ela já viveu em profundidade na Idade Média. Prioridade aos dízimos, aos sacramentos, às orações e rezas, aos cultos de fervor e louvor e menos ao mundo dos desprezados, dos sem teto, sem terra, sem emprego, sem voz e sem vez. Uma religião que desistiu da conscientização política e passou a apoiar ao político que dá apoio a ela. Em teoria apresenta uma excelente definição de escolha, mas na prática tem medo de apresentar o candidato que mais aproxima de sua filosofia política cristã. Aquele que faz leitura no púlpito, que não questiona, se candidatar é possível que ganhe uma eleição.
Os padres e pastores que saiam à frente dos movimentos sociais na década de ouro da Igreja, 70 e 80 do século XX, início do Vaticano II, eu acredito que acabou. Hoje, salva as exceções, são pastores e padres elitizados, presos nos colarinhos clericais, doutores infiltrados em faculdades ou vivendo nas mordomias das pequenas comunidades que ainda acham que os líderes religiosos são mais santos do que elas. E há sem vias de dúvidas uma corrente na hierarquia da Igreja que afirma que isso é verdade. Somos escolhidos, temos um chamado especial. Chamado especial se chama vida, isso sim.
A Igreja está precisando mais de mártires do que de santos. Mártires vermelhos (que derramam seus sangues pela causa dos mais necessitados) e mártires brancos (que derramam tempos de si pela causa dos mais necessitados). Homens e mulheres que se misturam na busca da justiça, do amor e da paz.
É isso aí!
Acácio