O Dia Que Não Veio
Espero deseperadamente um dia que surge no calendário dos outros.
Um dia que surge nas vísceras corrompidas da sociedade vigente e preconceituosa.
Um dia na vida de alguém no Gestimâni de nosso tempo. Alguém à espreita, alguém na espera de ser bode expiatório.
Um dia de expiação e vistas remuneradas de desejos não realizados. Um dia imprório no vocabulário sujo de alguém que, por viver na lama alta da sociedade, pode se dizer sortudo e equivocado jamais.
Um dia de grilhões, de prisões e de olhares milagreiros na sala de jantar. Um olhar pedinte na primavera da riqueza de nossas vidas inúteis.
Espero um dia que surja sem nome. Um dia que reapareça quantas vezes for necessário; um dia itinerário. Um dia distante da vertente de dor que consumimos na tristeza de nossos corações.
Um dia que ascenda para o óbvio.
Um dia que se torne pedido e não ordem. Que se faça a lágrima da Santa em lágrimas de diabos danados. Um dia na vida de Dante, de mim, de poetas calados pela exaustão de dores sempre implícitas na tirânica sociedade equivocada e nunca vigilante.
Um dia para Giordano Bruno.
Um dia para a cegueira se tornar tão dolorida quanto a pena que escreve a setença de morte para famintos danados de todas as partes do globo terrestre.
Um dia que se espera um dia. Um dia que retorne e se vá para requerê-lo novamente em orações para santo nenhum, santo de todos e de ouro fermentado no sangue nosso de cada dia.
Um dia que seja assim tão breve quanto uma sutura simples na carne morta. Indolor. Imaculado. Intermintente. Um dia que faça a luz beirar a escuridão completa.
Um dia de desespero. Um dia para se correr atrás do que se perdeu.
Eu espero um dia que não aparece no meu calendário.