UM GRANDE CASAMENTO

Quando era ainda menino me apaixonei pela “Marta Rocha” (picape GM 1958).

Dizia sempre que quando crescesse iria me casar com uma descendente dela.

Nos anos 70 tive um caso passageiro com uma rival, (picape Ford F - 100) mas acabei o relacionamento, pois ela “bebia muito”.

Em 79 eu a conheci, com aquele traseirão, foi paixão à primeira vista.

Fiz o pedido e tive que esperar alguns meses, quando finalmente em maio de 1979 concretizei meu sonho, tenho ainda a certidão de casamento ( nota fiscal) que comprova o fato e lá se vão 30 anos de mútua fidelidade.

Estamos sempre juntos, no trabalho e nas férias, fiz até uma casa que ela carrega nas costas sem reclamar;( um Camper) aliás, ela topa tudo, quer dizer, quase tudo, ela só não gosta muito é de lama, também pudera, pesadona como ela é!!!

Às vezes recebo sugestões pra trocá-la por uma mais nova, dessas orientais, toda plastificada, cujo nome não sei nem pronunciar direito como SSANGYOUNG ou MAHINDRA... cruzes !!!.

Ou então me sugerem trocar por uma nacional de origem americana, mas tenho certeza que com pouco tempo ela vai começar a RANGER.

Outro dia um sujeito abusado me fez uma proposta indecente : “Quer trocar por um PICASSO ?”.

“Ôrra meu !!! respondi...“Ôôô loco!!!... Tá achando que sou BONGO ou então BESTA ? não troco nem por meia dúzia de CHANA.

Estou falando de minha caminhonete Chevrolet D 10 carroceria longa 1979 que está comigo há trinta anos.

O casamento (depoimento dela)

Sei que essa paixão dele começou pela minha avó a “Marta Rocha”, mas ele era muito criança.

Sei também que ele teve um caso passageiro com uma rival, mas isso faz muito tempo.

Ele confessou que me escolheu por eu ser mais longa que minhas irmãs (com segundas intenções, é claro, pois ele fez uma casa pra eu carregar, mas tudo bem, eu aguento).

Vocês conhecem a música do Chico Buarque “O jumento” do disco “Os Saltimbancos”?

“O pão, a farinha, feijão, carne seca

Limão, mexerica, mamão, melancia

A areia, o cimento, o tijolo, a pedreira

Quem é que carrega? Hi-ho”

Pois é; essa sou eu.

Ele sempre cuida da minha saúde, da minha maquiagem, me dá banho e compra dois pares de calçados novos de vez em quando. Há alguns anos me deu até um coração novo, um motor Q20B, igual das minhas irmãs mais novas, que me fez ficar até mais ligeira.

E tem mais; ele sabe que eu só bebo socialmente.

Não posso reclamar, e usar a lei Maria da Penha, pois apesar de tudo ele nunca me bateu.

Sei que ele não pretende me trocar por uma japonesinha esbelta e serelepe, pois daqui uns anos, se ele continuar cuidando bem de mim, eu que já sou uma balsaquiana, vou estar ainda muito inteira, e a “japa” como vai estar ? E além do mais, sem que ninguém nos ouça, acho que ele não tem “cacife” pra encarar uma belezinha dessas novinhas. Rá, rá, rá !!!

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 04/09/2009
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