RESCINDIR DO SILÊNCIO
RESCINDIR DO SILÊNCIO
Chovia muito naquela tarde!
No fundo, ao lado esquerdo daquele enorme corredor ficava a sala de estudos.
Era uma sala com muitas carteiras em forma de balcão, já envelhecidas pelo tempo.
As cortinas enormes e pesadas, escondiam as vidraças embaçadas pelos esborrifos da chuva que caía sem misericórdia naquela tarde de outubro.
Na parede de entrada, uma lousa de cor azul marinho e a cima dela, um relógio marcando com seu tic-tac os momentos que faltavam para terminar o estudo.
O clima era frio, os estudantes enrolados em cobertas e cobertores,
Alguns dormindo sobre as enormes apostilas e outros debruçados sobre os escólios e pensando sabe lá em que.
Na última escrivaninha do fundo da sala,
O prior, enquanto vigiava o recinto, escrevia suas incontáveis cartas que eram sempre enviadas para muito longe.
Quando surgia algum alarido dos estudantes que se sentavam em duplas,
Saía um roncado do peito do prior que fazia tudo voltar ao silêncio exigido.
As luzes acesas dentro dos cristais do final do século atrasado,
Mostrava os sinais de claridade que houve para que muitos estudantes ascendentes pudessem finalizar seus objetivos, passando por aquele mesmo caminho.
No canto da porta da sala, uma vasilha de lixo cheia de papéis picados e resquícios de madeira de lápis.
Na parede lisa, uma reprodução enorme do quadro em afresco de São Francisco de Assis com as chagas no peito e nas mãos.
O chão de taco de madeira já encardida, estava estático por ser tanto pisado pelos pés dos mensageiros que por ali pisaram.
Depois de mais de duas horas de estudo naquele clima chuvoso daquela longínqua tarde,
Todos os estudantes ouviram um sussurro forte que vinha da sala que ficava em frente à classe de estudos.
Romeu, um estudante estupendo, muito dedicado, de voz forte e que não conseguia cochichar, saiu de seu lugar, pediu licença ao prior e foi na capela conferir tal murmúrio, pois era de lá que vinha o estranho barulho.
De repente, Romeu aparece na porta da sala de disciplina e diz alto e ao bom som:
“É frei Joaquim que acabou de acordar diante do Santíssimo!”
Acácio