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Hoje, enquanto fazia o seu macarrão domingueiro (com bastante molho), me emocionei ao relembrar da nossa conversa de ontem.
Fui vê-lo às 16 horas, como de costume.
Estranhei a porta aberta e ele sentado com a televisão desligada. Parecia pouco animado. Achei que fosse por causa da sequência de dias chuvosos: ele se aborrece quando o sol some. Sabendo disso apareci pra lhe fazer companhia e levar algo diferente para animar a nossa prosa: pipoca pra tomar com café fresco e sopa pra ele tomar antes de deitar-se.
Mas, ontem ele estava muito calado...
Me pediu para regular a imagem da televisão. Liguei e ajustei o melhor que pude; mas ele não estava interessado no filme. Perguntei se já havia visto, ele respondeu que sim e desviou o assunto.
– Eu sou o segundo filha da mãe, não é? Primeiro nasceu o Jacó, depois a Rosa.
– Veja, mostrei-lhe três dedos e fui separando: primeiro, segundo; você é o terceiro. Certo? – Ele anuiu com um movimento de cabeça. E emendou:
– Gente que nasce com problema de cabeça não fica boa nunca?
Engoli em seco... Santo Deus e agora? Aos 73 anos tomar consciência de certas coisas é doído...
“Bem, tem gente que melhora muito. Você sabe, alguns trabalham, moram sozinhos, namoram e até conhecem Viagra”! Dei-lhe uma piscadinha. Sorrimos.
Ele tornou a me falar do sonho que teve há quinze dias:
– Eu sonhei que aquele comprimido vermelho que o médico novo me deu tinha me deixado bom.
– “Eu acho você muito melhor”!
– É? – Sorriu de mansinho disfarçando a tristeza e mais uma vez mudou de assunto: O meu primo que é artista de televisão é parecido comigo?
–“ Caramba, vocês são muito parecidos! Principamente quando você corta os cabelos e faz a barba.”
Agora, sim – seus olhos miúdos se iluminaram!
Preparei a pipoca e ficamos conversando.
Ele me falou do passado, de quando ele era menino, de _coisas que você não sabe porque nem tinha nascido ainda...
_ “Ainda bem que eu tenho você pra me contar tudinho, né Zeca”?
lua nova