O BISPO CRÉU
A Secretaria da Educação de Minas autorizou professoras e outras servidoras grávidas a se afastarem do trabalho na rede estadual de ensino. Desde segunda-feira dia 17 de agosto, as funcionárias estão aptas a tirar licença por tempo indeterminado. Segundo a secretária da pasta, a medida é preventiva, já que as gestantes são mais vulneráveis ao vírus da gripe suína. Ao terminar de ler a determinação do governador, Diná precisou ser levada as pressas para tomar água com áçucar. Coração disparado e mãos tão frias como se tivesse sido desencarnada em partes. Abraçou a amiga Netinha e disse que seria morta pelo seu pai, ninguém entendia nada, disseram que era melhor chamar um médico mas ela respondeu com rispidez e levantou cambaleando para ir ao banheiro. Na interpretação das colegas aquilo se devia ao medo de contrair a gripe suina que aterroriza todos os povos. Só que algo mais acontecia nas secretas intimidades de Diná, filha de um pastor evangélico e de uma mãe ferozmente religiosa que segundo as linguas de pimenta não depilava a região inguinal e adjascências desde que recebera o cargo de Ministra das Almas para o céu. O que lhe rendeu a alcunha de Capitão caverna, quando umas crianças do estudo Bíblico entraram por engano no banheiro feminino e a viram tomando banho. Os irmãos bilógicos de Diná eram mais fanáticos que os Talebans, Absalão, Abião e Abirão viviam e morriam pela causa da fé. Eram casados com mulheres altamente vigiadas, esposas algemadas nas ordens dos fanáticos. Que eram frequentemente interrogadas com a ajuda de detectores de mentiras para dizer o que sonharam, e para cada sonho a pena variava de simples tapas nas orelhas até surras com bíblias molhadas para desterrar os pecados. Com temor as mulheres não dormiam, eram zumbis vagueiando por espaços exorbitados fugindo dos sonhos eróticos que no julgamento dos maridos pagava com a morte. O sogro apoiava, e a sogra "capitão caverna" além do apoio também ajudava a interrogar . Diná estava confusa, sua morte estava decretada, Deus fará cair sobre ela a espada da justiça, como disse a leitora para um certo cronista. O governo não tinha o direito de fazer isto! pensava sentada no vaso despejando a diarréia sem controle. Mas se ficasse um pouco mais de tempo, poderia ser que a onda da nova gripe passasse. Por outro lado corria o risco de contrair a doença. A barriga ainda não acusava os momentos de cura espiritual que a filha dos fanáticos passara sob as bençãos do Bispo Créu. Assim entre interrogações e exclamações, resolveu entregar o caso a Deus e abrir o jogo, contou ao chefe e mostrou o resultado positivo, recebendo imediatamente a licença.
Nas pregações o pai de Diná continuava radical, chamando de profana demoniaca toda pratica sexual fora do casamento. Quando o Bispo Créu se preparava para fzer a sua pregação percebeu que ela o olhava apreensiva, sorriu com o desdém de quem o fez por educação, mas ela visivelmente desesperada o fez mudar a rota dos planos e ir até a sala dos segredos para lhe confessar a tragédia santa. Créu tremeu feito o MC do Rio de Janeiro e não acreditou. Insinuou que estava sendo vitima de golpe, mas voltou atrás pois fora o desbravador da virgindade da Funcionária Pública, pediu o nome do chefe dela para para tentar um suborno porém a perícia já estava na Secretaria de Planejamento e Gestão. O jeito era apelar para o ponto fraco dos Pais de Diná, a predestinação pela vontade de Deus, foi neste momento que o Bispo Créu sorriu com sarcasmo e pediu a ela que tivesse calma que tudo se resolveria. No grande palco, já era a vez da sua intervenção, em nome de Deus pediu a todos os irmãos que fizessem uma demonstração de fé. Levantassem , dessem pulinhos e girassem, depois cantassem como galos, após o coletivo cocoricó, que todos sem excessões jogassem 100 reais para cima e deixassem que o chão de granito do humilde templo do senhor se forrasse com as ofertas de fé, quem não tivesse a quantia jogasse o que o bolso possuia, a confusão se deu por conta de celulares de todos os tamanhos, que desciam nas cabeças que chegaram a sangrar . Os coletores da fortuna agachavam com sacolas ungidas para fazer a "vontade de Deus". O Bispo encontrou o campo que precisava e neste precioso tempo de extrema conexão com o céu, ele disse que Deus estava fertilizando uma serva que era filha de uma familia de abençoados e que ela começaria a sentir algo se mexer no seu interior, mas isto era o poder do Espirito Santo. Neste instante todos gritaram aleluia e ficaram na expectativa do "Cavalo de Tróia", ou melhor do presente de Deus. Que se manifestou quando Diná iniciou o seu teatro, os pais tomaram o palco para agradecer em lágrimas e gritos, os irmãos fundamentalistas se abraçaram, e toda a Igreja chorou de alegria. Bispo Créu chamou Diná, e na frente daquela multidão abriu os braços olhando para o teto e com a mão na cabeça dela, disse que para Deus nada é impossível.