Cadê a Infância que Estava Aqui?
 
 
O que faz a pressão social em uma criança? Quais são os reflexos deste ambiente recheado de informações nestes seres pequeninos que chegam ao mundo? Sempre costumo discutir este assunto com meus amigos, sendo eles já pais ou não, e a máxima que sai é sempre esta:
 
- Fomos uma das últimas gerações que realmente teve infância!
 
Espanta-me cogitar tal idéia. Afinal, a inocência e o encanto pueril deveriam ser protegidos a todo custo. Antes mesmo de eu ser criança já havia situações que transformavam os pequenos em adultos, em descrentes, roubavam-lhes o brilho no olhar, e, por mais infeliz que isto seja, sempre existirão casos assim. Contudo, o que realmente me alarma é a possibilidade do que era exceção, agora está se transformando em regra.
 
Em um domingo destes assisti a um documentário feito para a TV chamado: “Dana: The 8-Year-Old Anorexic” (Oito anos e Anoréxica). Fiquei pasmada, como muitos ficaram, com a pouca idade de Dana para estar sofrendo de um distúrbio alimentar tão grave. Como noção da seriedade do caso, a menina contava as calorias – comendo um absurdo de 175 diárias –, além de exercitar-se por horas a fio.
 
Pensei comigo mesma; Eu com a idade dela só me preocupava em correr, em brincar e em assistir ao filme da Sessão da Tarde. Enquanto o meu maior problema era tirar uma nota baixa ou alguma briga que me metia, Dana e outras (uma vez que o índice de meninas com menos de 10 anos apresentando estes distúrbios vem crescendo muito nos últimos anos) são colocadas a prova, tendo que enfrentar um monstro que poderá assombrá-las para toda uma vida.
 
Só o fato da anorexia e da cobrança por uma aparência ideal renderia páginas e páginas; Mas, estes distúrbios demonstram algo muito mais profundo que o físico, é uma resposta inconsciente da criança para algo que não consegue expressar e dominar. Nossa atualidade figura em milhares de informações jogadas por segundo, cabendo tudo no alcance das mãos. Como não confundir e moldar as crianças se nós mesmos estamos apreendendo este ritmo frenético? A velocidade pode ser algo maravilhoso, mas também pode levar a colisão.
 
O contato com a natureza faz falta, ainda que não a conheçam. As brincadeiras em conjunto, o sujarem-se, até mesmo as brigas pesam ausentes para o espírito livre e curioso. Os eletrônicos roubaram o espaço do pique - esconde. Existe um tempo para tudo, com o passar dos anos percebemos isto com mais clareza, e perante a limitação do agir e o universo ilimitado de novidades, estão recaindo para a correria do mundo, sem aproveitar o encanto da infância.
 
Não é culpa só do meio, mas sim nossa, a mania de acreditar que os machucados podem ser evitados, que os erros negados, como se não fossem parte do processo, trazendo o resultado final e exigindo que pense como adulto alguém que a tão pouco tempo está na terra. Ao invés de deixar que haja uma introdução ao ser vivenciado, apertamos no “skip intro” e permitimos que esta fase torne-se cada dia mais curta.
 
A cena é mais comum do que se pensa, mas vi três meninas, com idade aproximada de 6/7 anos, sentadas, lindas, falando sobre a roupa, a maquiagem, os meninos e ignorando o intervalo das aulas, transcorrendo sem nenhuma brincadeira. Estas não deveriam ser as preocupações, os gostos, as fases são importantes e precisam ser saboreadas ao máximo.
 
A beleza da infância está nesta descoberta de ritmo descompassado ao nosso corre-corre diário, na inocência e despreocupação. É nossa obrigação garantir que esta exista e dure, refreando o crescimento antecipado que tanto nos deparamos hoje em dia; Deixando para trás as preocupações com aparência e garotos/as para a correta fase. Afinal, se já é complicado na adolescência para que permitir que more na infância também?
 
Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 25/08/2009
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