CADA UM SABE DE SI

 
          Minha mãe é uma mulher linda, forte e não aparenta a idade que tem. Quando é interrogada sobre o segredo de sua eterna juventude responde sorrindo:  "deve ser porque levei muito chifre".

          Não cabe aqui dizer se concordo ou não com a forma como ela conviveu durante anos com a traição de papai. Como, em sua sabedoria, nos orientava a não desrespeitá-lo, a conviver pacificamente com os irmãos nascidos fora do casamento. Ela sempre nos dizia que não devíamos nos "meter" no que papai fazia, pois isso só dizia respeito a eles dois.


          Minha mãe me ensinou a ser tolerante. Apesar de não querer viver aquele modelo de relação, foi com eles que aprendi a valorizar a família, a lealdade, a verdade, a fidelidade. Aprendemos muito com aquilo que não temos.  

          Interessante é que nunca vi mamãe como vítima, sempre achei que naquela relação ela era mais forte, e, apesar de nunca conversarmos sobre isso, tenho certeza que ela sofria, apesar do sorriso, da alegria e sua disposição em manter a família unida. 

          Ao longo de minha vida vi e ouvi muitas histórias sobre traições, mas tenho dificuldade em rotular de tontas as mulheres que convivem pacificamente com a traição de seus companheiros.Acredito que cada um sabe de si e, se eu não quero ou não aceito determinadas situações, não cabe a mim dizer o que é certo ou errado para outras vidas. 

          Não estou fazendo apologia a traição, mas acredito que cada um aceita apenas aquilo que consegue suportar. Como conseguem, e qual é o preço dessa resignação eu não saberia responder.


Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 24/08/2009
Reeditado em 24/08/2009
Código do texto: T1772255
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